31 de agosto de 2004

O Telefonema (Parte I)

Chegara finalmente ao escritório. O final da tarde aproximava-se a passos largos, tão largos, que era impossível acompanhar as pegadas longas, que conduziam os seus colegas em direcção ao ar puro e confortavelmente quente, o mesmo ar de onde ele vinha agora, cansado.

Seguiu o corredor em direcção ao seu refúgio, que paradoxalmente em alguns dias lhe parecia mais uma sala de tortura, na qual, montanhas de papéis e problemas grandes, pequenos e ínfimos, tal qual cilício cravado na carne, lhe infligiam dores muito superiores às suportáveis por muitos seres humanos, não físicas claro, mas mais imateriais.

Colocou a chave na porta e esta abriu-se. Não tinha necessitado dizer as palavras mágicas "abre-te sésamo", bastara um corriqueiro pedaço de metal moldado, para ser admitido naquele espaço que era temporariamente seu, sim como tudo o que possuía, era tudo temporário.

Percebeu que o seu espírito se preparava para divagar. Combateu o cansaço e com passos seguros torneou a secretária para se entregar sem resistência ao descanso nos braços da majestosa cadeira, uma daquelas a que só os chefes têm direito, mais uma vez e curiosamente também apenas temporariamente.

Olhou os papéis que simpática e tortuosamente alguém, na sua ausência lhe tinha colocado em cima da secretária. Passou os dedos e os olhos por eles desinteressadamente. Por fim, fitou o negro do ecrã do computador a seu lado. Rodou ligeiramente e no fundo do seu dedo ouviu-se um "clique".

Ao lado repousava a agenda, a malfadada agenda. Enquanto entre ruídos pouco audíveis, o computador se ajustava para obedecer às ordens do seu amo, passava as folhas da agenda alheadamente. Era uma daquelas agendas de folhas soltas, que apenas umas argolas insistem em manter em comunhão familiar.

Parou subitamente numa página. Apesar do seu aparente e consentido alheamento, algo naquela página o tinha retido. Não era a data, era banal como outra qualquer, era sim um nome que se fazia acompanhar por um número e muitas recordações. Era o número de telefone dela. Tentou perscrutar na sua memória há quanto tempo não falava com ela. Esforço inglório. Contudo sentiu que quer fosse pouco ou muito era já demasiado. Nesse momento outro pensamento assaltou-lhe a mente acompanhado por um ribombar, que nas colunas ligadas ao computador anunciavam a seu estado de: "às suas ordens chefe!".

Seria que ela se importaria que ele lhe telefonasse? Afinal já não falavam há..., há..., tanto tempo.

Na verdade sentia falta das longas conversas com ela, conversas simples e doces que sempre lhe davam uma sensação de alegria, segurança e pertença a um mundo que queria como seu.

Sentia saudades dela, era isso, eram saudades. Pensou em dizer-lho.

Estendeu a mão e agarrou o telefone, onde compassadamente foi martelando dígito, após dígito, até que por fim o número estava completo e do outro lado ouviu o inconfundível sinal de chamar:

piiiiiiiiiiiiii……piiiiiiiiiiiiiiii……piiiiiiiiiiiii.....


30 de agosto de 2004

A Promessa a Lady Marian Robina

"...tu és o meu pior pesadelo..."

Escreveu ele com a sua melhor caligrafia preenchendo de sentimentos a brancura da folha de papel que tudo permitia e tão pouco exigia. Aquela seria uma carta que nunca enviaria, pois simplesmente ainda não tinha uma destinatária para ela. Talvez, nunca fosse demasiado tempo, mas seguramente aquela carta não sofria do stress de um deadline.

Aquele simples facto dava-lhe espaço para parar, reler e pensar no que tinha acabado de escrever. Lido assim, sem mais, podia até parecer absurdo, como poderia alguém escrever uma declaração de amor naqueles termos, dizendo à pessoa amada que era o seu pior pesadelo.

Interiormente riu, irradiando daquela gargalhada muda um sentimento de desprezo por aquela interpretação.

Mas aquela era uma sincera e pura declaração de amor, pois ela era mesmo o seu pior pesadelo, um pesadelo que o fazia sentir tudo aquilo que esquecera, que o impelia a fazer e dizer as maiores tontices com um grande sorriso nos lábios e uma sensação de alegria imensa. Na verdade, desde que passara a ter aquele pesadelo na sua existência, tinha recomeçado a viver, a viver para si e por si, para ser feliz.

Aquele pesadelo tinha-o feito enfrentar uma série de medos, abrir portas de novos mundos e recomeçar, reiniciar cada dia com um espectro de vitória nos olhos. Era um pesadelo azul celeste e cor-de-rosa, doce como só o algodão doce, violento como o mar pode ser, calmo como o céu azul, cor de laranja, amarelo raiado por uns leves traços de cinzento, vermelho e amarelo num final de tarde de verão e ternurento, de uma ternura infinita.

Como pode ser belo um amor platónico, um amor puro e simples, inofensivo, harmonioso, perfeito e implicitamente correspondido na sua plenitude.

Esta era a força de um amor platónico, a energia que o impelia a viver e a apreciar cada segundo como se fosse esse o momento da descoberta do seu tesouro, um tesouro que aos olhos de qualquer outro não seria mais do que pirite, vulgar "ouro dos tolos", mas neste descomunal mar de sensações cada sentimento é como uma alga cujo sabor único e ímpar depende da boca do peixe que dela se alimenta.

Será que ela, onde quer que estivesse, se importaria de ser o seu pior pesadelo um pesadelo tão sonhado e desejado?


27 de agosto de 2004

Hoje Podia...

Hoje podia contar-vos uma história. Na verdade podia, mas não me apetece.

Queria ficar aqui sentado no jardim do farol a olhar o mar, este mar sereno que sempre me acalma. Quando o olho e sinto o seu movimento constante pergunto-me se nunca se cansa. Não deve cansar, talvez seja essa sua constante actividade que me faz acalmar, sentir que por mais que tentasse nunca o conseguiria acompanhar.

Pois, mas hoje não me apetece contar-vos uma história sobre o mar.

Queria mesmo era ficar aqui sentado enquanto no pequeno ecrã à minha frente uma força invisível, através de uma mão imaginária desenhasse com letrinhas uma bonita história. Uma história de sonho. Um sonho a dois, três, quatro ou mais, muitos mais, porque os Amigos nunca são demais.

Pois, mas hoje também não me apetece contar-vos uma história sobre o Amizade.

Tantas foram já escritas e tão mais perfeitas do que qualquer uma que eu vos pudesse contar. Talvez aquela, daquele meu Amigo que um dia... não, nem essa seria merecedora da vossa paciência e atenção, é uma história demasiado simples, demasiado humilde sobre um facto ordinariamente vulgar, para uma noite de verão.

Pois, mas também não me apetece contar-vos uma história sobre uma noite de verão.

Como gosto das noites de verão. Gosto particularmente de sair à rua, caminhar por locais descampados e agarrar com força a luz do luar com o olhar, enquanto me banho na frescura que pinga de cada ponto brilhante do céu, assim como de um chuveiro astral. Como é bela a noite. Apurando o ouvido conseguem ouvir-se aqueles sons tremendos que durante o dia se encontram calados pela ampliação do nosso frenesim social. Como gosto das noites de verão no campo.

Pois, mas também não me apetece contar-vos uma história sobre o campo.

Verde, amarelo, vermelho, lilás, branco, ou até mesmo negro, não de um negro calmo e sereno como o da noite, mas de um negro sujo, queimado, destruidor, um negro criminoso e assassino. Ai o campo, os odores que se misturam no ar, o calor que desprende da terra, colocar a mão no chão de granito rude à noite e sentir o calor invadir-nos e depois, depois quem sabe mergulhar nas águas bem frescas de um tanque de rega alimentado por uma fresca mina, de onde saem, aos pares, grupos de morcegos que mergulham sem medo na noite escura.

Pois, mas também não me apetece contar-vos uma história sobre sensuais banhos nocturnos em noites de verão, em águas frescas que aquecem com o calor da paixão dos corpos que nelas se banham.

Na verdade, hoje não me apetece contar-vos nenhuma história, espero que compreendam e me desculpem.


26 de agosto de 2004

Naufrágio

Dormia tranquilo, quando subitamente foi despertado por um ribombar medonho. Aquele ruído entranhou-se nas fendas do velho farol, intimando com a estrutura com tal intensidade que até mais pequenas moléculas tremeram nas suas ligações atómicas.

Saltou da cama e com um passo acelerado, enquanto ia enfiando as peças de roupa que apanhara em monte do topo de uma cadeira, subiu as escadas encaracoladinhas do farol de duas em duas. No cimo, ofegante, abriu o alçapão que dava acesso à estufa que protegia a Luz do Farol.

Não percebia bem se era dia ou noite, parecia dia, mas também podia ser noite. Grossas nuvens tenebrosas, lúgubres, carregadas de toneladas de água que se despenhava em grossas cataratas sobre o mar e o farol, cobriam todo o céu.

O mar, esse, também se transformara, estava agora sombrio, agitado, parecia desconfortável naquela piscina à qual o tinham confinado, desejava transbordar, dar largas ao seu instinto destruidor. Perguntava-se onde estava o azul, a placidez com que normalmente brindava os banhistas naquele mês de verão. Algo o tinha irritado, algo muito intenso.

Lembrou o manual de procedimentos, Capítulo 3, Secção 21, Paragrafo 12: "em dias de manifesta escuridão, ou em que o estado do mar represente um perigo real para a navegação, manter o farol aceso até alteração das condições".

Tinha de manter o farol aceso durante esse dia, ou seria noite? Não interessava, o que importava é que as condições exigiam a manutenção da Luz do Farol.

A cascata de água que se esborrachava contra a superfície vidrada da redoma que protegia a alma do farol, teimava em não abrandar, quase impedia a visão do mar. O vento assobiava entusiasmado com aquele cenário e com a possibilidade de vir a participar num evento de grande dor e destruição.

Deixou que o seu olhar atravessasse o vidro, deambulasse por entre os grossos jorros de água. Ao longe pareceu avistar uma embarcação em perigo. Esforçou a vista e conseguiu uma débil confirmação, logo questionada por uma enorme vaga que procurava atingir o céu, o sonho de também ela voar como as nuvens. Voltou a tentar e mais uma vez viu piscar uma delicada luzinha por entre as colossais e pavorosas vagas.

Baixou-se e apanhou os binóculos. Com eles deixou os seus olhos passearem por entre as gigantescas ondas à procura da embarcação. Por fim foi recompensado. Lá estava ela, em apuros, em luta por se manter à tona, mas sempre com a proa bem erguida em sinal de perseverança e orgulho na sua alma marinheira.

Ajustou os binóculos e tentou ver o nome da embarcação. Na subida acentuada de uma onda onde esta repousava, já imóvel, conseguiu ler-lhe o nome: "Espelho Mágico".

- Que faria aquela embarcação ali? - perguntou-se.
- Porque estaria ela ali num dia daqueles?

Certamente iria afundar-se, apesar da sua envergadura e da experiência acumulada, sentia que o fim estava perto.

Sem pensar, parou o movimento rotativo, sem destino, da luz do farol e colocou a embarcação sob o foco principal de luz. Então começou a transmitir uma mensagem de força e incentivo, composta por luzinhas curtas e luzinhas longas com umas pausas pelo meio, mensagem que qualquer verdadeiro navegante compreenderia:

.-. . ... .--. .. .-. .- --..-- / .-. . ... .--. .. .-. .- / ... --- -- . -. - . --..-- / -. .- --- / -.. . ... .. ... - .- ... / -.. . / .-. . ... .--. .. .-. .- .-. .-.-.-

Porque o importante mesmo, é nunca desistir.


24 de agosto de 2004

Olhar a Luz do Farol

Algo que ponderei com muita calma e paciência estas férias foi a volta aqui, ao farol. Sim, estou a pensar apagar definitivamente a luz deste farol. Como disse na "primeira luzinha", já lá vão mais de dois meses, este seria um farol que acenderia por paixão e não por obrigação. É verdade que ao longo destes meses o farol acendeu quase diariamente, prova disso é a conta das lâmpadas e da electricidade consumida para o acender mais de 100 vezes.

Neste momento alguns de vocês perguntam-se se acabou a paixão. Com sinceridade vos digo que não, tenho aqui escritos (não no verso de talões de hipermercado, Maré) uma boa dezena de textos para publicar e outros virão, simplesmente tenho dúvidas sobre muita coisa.

De qualquer modo tinha de voltar para cumprir umas promessas e deixar umas luzinhas a algumas pessoas que me acompanharam desde o nascimento para esta nova experiência de juntar letrinhas, criar sonhos, distribuir sorrisos e avivar emoções nesta coisa dos blogs, antes de tomar uma decisão final. Pois é verdade que nunca me esqueço das promessas. Por vezes posso guarda-las num recanto mais esquecido da minha memória, mas numa viagem ou noutra acabo sempre por passar por lá e cumprir.

Vou começar pelas que fiz. À maré, que sempre me deixou comentários, que me tocaram e que cada vez que os lia em voz alta me parecia ouvir uma bela sinfonia, pela sua intensidade e harmonia, prometi usar as belíssimas imagens de faróis de gentilmente me enviou, prometi e vou cumprir Maré.

À Lady Marian, prometi um texto sobre o amor platónico, prometi e cumprirei Miss Robina.

A Minha amiga sonhadora Catarina prometeu-me uma continuação para a história das Marcas, prometeu e aguardo que cumpra, pois já tenho a continuação prontinha.

Vamos agora aos agradecimentos. São muitos e provavelmente vou esquecer-me de alguns, e para esses, para aqueles que involuntariamente esquecerei, mas que por isso não deixam de ser igualmente importantes, vão os meus primeiros agradecimentos, gerais, como não podia deixar de ser.

Para outras pessoas, aquelas que voluntariamente não esqueci, vou agradecer uma a uma. O primeiro agradecimento vai para a Catarina, pois foi a primeira pessoa a estender a mão para dar as boas-vindas ao farol numdiadestes assim 100nada, não esqueci a quem desejo muitas alegrias e felicidades pessoais. Também ao TheOldMan, pelo incentivo que me deixou nos comentários aos primeiros textos publicados.

O segundo vai para a Duende, por muitos motivos, dos quais quero destacar dois, o primeiro foi um comentário a um texto em que utilizei a letra de uma canção de Pedro Abrunhosa, e o segundo foi uma demonstração pública do seu agrado pelo labor solitário no farol. Muito obrigado Duende (eu sei que não era para agradecer, mas eu sou assim, quando as coisas me tocam tenho de dizer que me tocaram e a única forma que conheço é agradecer)!

Tenho ainda aqui anotado um agradecimento para a Mar e a Sininho, que me acompanham desde há longa data, a Mar desde mesmo o início e sempre ali estiveram a acender luzinhas.

Para a Maré (independentemente do seu estado: cheia ou vazia) tenho que deixar um grande, muito grande “Jinho” (na sua linguagem), por todas as luzinhas que me foi deixando de uma intensidade e resplendor ímpares e pelo significado do conteúdo. Também pelo incentivo relativamente à história do faroleiro e paciência para ler religiosamente todos os episódios, alguns bastante longos que fui publicando. (Maré ainda tentei escrever um capítulo, curtinho nas costas de um talão de hipermercado, mas não deu, sorry...).

Por fim, para a Catarina (a outra, a que pertence ao proletariado da fábrica de sonhos), queria esclarecer antes de continuar, que a ordem não reflecte qualquer escala de importância, és a última porque também foste a última pessoa que li e que me passou a ler regularmente.

O que te Queria dizer é que gosto muito do que escreves, alguns dos textos poderiam até ter sido escritos por mim, bastava para tal ter um talento como o teu. Talvez um dia, com muito, muito, muito, muito, muitíssimo treino, quem sabe se me consigo aproximar um pouco. Registei com muito entusiasmo, o "quem me dera ter-te aqui" no post-it, sorri com alegria quando o li.

Para terminar dizer-vos que isto não é uma despedida, pelo menos por agora, estou apenas a ponderar essa hipótese, mas queria desde já deixar os agradecimentos feitos, para a eventualidade...

Não quero que pensem que vos estou a "engraxar", pois como já disse, não me preocupo muito com sucesso, número de comentários, visitas, etc. etc.. Se me importasse teria criado um blog com outro estilo e cariz, mas não foi essa a opção, o farol é o que é e como já disse o farol sou EU, mas descobri que as luzinhas que vocês me acendiam dia após dia tinham um sabor extremamente doce, que não consigo esquecer.

E não esqueço, igualmente, que por trás desses textos estão pessoas, pessoas que vivem, se emocionam, pessoas que se alegram e se entristecem como eu, é por isso que a lista de portos seguros tem aquele aspecto estranho, em que não existe nome de blogs, mas a forma como vos vejo, como pessoas. É claro que podeis não ser ou não acreditar que sois nada assim (Não é OldMan?), mas não me interessa, é assim que vos imagino e este blog é meu e aqui faço o quero (Tenho ou não tenho razão Catarina?)

No caso de decidir manter o farol em funcionamento, nada deste diálogo (sim, digo diálogo, porque imagino muitos de vocês a comentar este texto, que mais não seja no vosso pensamento e apesar de não vos ouvir consigo sentir esse diálogo) é "perdido", considerem que apenas se fez um ponto de situação, no qual decidi agradecer os momentos de alegria com que me presentearam ao longo destes dois meses.

Para todos uma luzinha de boa sorte.


15 de agosto de 2004

A Partida

Chegara a hora de partir!

De frente para o farol, sentiu a maresia tocar-lhe os olhos, que lenta e progressivamente ficavam cheios de água salgada, que se desprendia num choro mudo, seguindo o curso imposto pelas linhas marcadas no seu rosto dorido.

Eram sempre assim as despedidas, tristes, com sabor a sal. Mas há coisas que são inevitáveis, por maior que essa não seja a vontade. A vontade era de ficar mais um ano, um mês, uma semana, um dia, uma hora, um minuto, um segundo que fosse.

Um segundo, mais um segundo, parece tão pouco. É tão pouco, não é?

Mas comecem a juntar segundos e vejam o que conseguem. Cada segundo guarda em si aquele instante mágico, aquele último toque, um último gesto, olhar, beijo, palavra ou mensagem. Pensem em quantos "últimos" segundos tiveram nas vossas vidas e como eles vos marcaram.

É assim a vida, um amontoado de segundos, todos importantes, mas alguns mais vivos que outros na memória, ou na pele.

Pensava agora na chave que rodava pesada e morosa ao fechar a porta do farol, na luz apagada, em quantos marinheiros ficariam presos na escuridão sem a luz do farol. Pensava também na sua Sereia, aquela que do mar olhava o farol à procura de um sinal, uma luzinha, um sonho, uma promessa de um porto seguro.

Mas não havia volta a dar-lhe, eram as férias, elas que se estenderiam por vários dias, muitos, demasiados...

Colou o aviso na porta do Farol:

FAROL APAGADO
MOTIVO: FÉRIAS DO FAROLEIRO

e afastou-se, pesarosamente do seu farol.

Talvez depois da férias regresse.

Talvez, talvez…



14 de agosto de 2004

Despertar Triste

Já o pressentia, senti-o nos teus sorrisos, nas tuas palavras, nas tuas ausências, talvez por isso se diga que o pior cego é aquele que não quer ver e eu não queria, mas não sou cego, por isso te escrevi aquela carta, porque senti que te estava a perder.

Era inevitável, apesar de insistentemente procurar resolver equações impossíveis, ambos sabíamos que o eram. Mas nunca desisti de procurar novas abordagens, novas transformações e substituições, porque no fundo nunca deixei de acreditar, de ter esperança, não queria, não podia deixar de acreditar. Como poderia abandonar um sonho, um sonho belo, apesar de todas as incógnitas, todas as incertezas e todos os problemas, isso seria render-me antes de derramar a última gota de sangue.

Como te disse foste a coisa mais maravilhosa e mais terrível que me aconteceu, tu compreendes... Foram gavetas que se abriram, o reaprender a sonhar, a recordar locais, momentos, situações e emoções. E este gosto pela escrita, por sentir-me preenchido, por apreciar a beleza aprisionada num simples sorriso ou olhar, por abandonar um vazio que nos mata pela ausência da consciência de quem somos, do que desejamos e sonhamos em silêncio.

Mas compreendo, entendo que era muito duro, demasiado cruel, talvez por isso nunca tenhas sonhado em voz alta. Embora eu tenha desejado por mais de uma vez ouvir-te dizer algo, um sinal claro ou um desejo, mas também isso eu entendo, e aceito. Aceito que o caminho mais difícil não é o mais apetecível e que acumular dor em cima de dor não é vida para ninguém, principalmente para um espírito de luz. É isso que tu és, um espírito de luz, um cometa, que numa passagem fugaz pelo meu planeta, fez doces estragos que vão durar milhares ou mesmo milhões de anos, anos luz.

Nas mãos, agora vazias, conservo quatro cristais.

O primeiro contém a tua recordação e essa é minha e só minha e apenas com a morte me abandonará.

O segundo contém uma promessa, a de uma camisola de lã, cor branco sujo, no meio de um areal e quatro marcas que seguem a par na areia húmida.

No terceiro um cozinhado de sentimentos, emoções, carícias, envolvidas no doce sabor dos teus lábios e da tua pele, que um dia beijei.

No quarto duas esperanças, a de uma amizade verdadeira e duradoura construída em cima da franqueza e cumplicidade que desde o início nos ligou e a de um dia, um dia quem sabe... se... talvez... um dia os livros de juntem na mesma estante.

Agora tenho de fechar várias gavetas abertas especialmente para ti, tu sabes quais, mantenho aberta a dos sonhos, aqueles que alimentam este farol, esperemos que por muito tempo...

Por fim, desejo no fundo do coração que encontres a felicidade, que uma mão doce, meiga e sincera, cheia de nobres e puros sentimentos te afague, tanto quanto o desejo para mim, com a intensidade que conseguimos desejar àqueles que verdadeiramente amamos.

Eu fico aqui, tu sabes onde, por isso, sempre que necessitares aquele ombro amigo, aquela voz, um beijo, uma carícia, eu cá estarei... sem expectativas, sem perguntas, sem mágoas.

GMT


13 de agosto de 2004

Auto-retrato

Li no outro dia num blog que ele continha 18,75% do autor.

"My weblog owns 18.75 % of me.
Does your weblog own you?"

Achei curioso, como pode um blog conter menos de 100% do autor?

Pois..., na verdade pouco interessa, o que realmente importa é que este blog, o Farol, é 100% da minha luz, do que sou, o que quero, o que sonho, o que vivo, o que vejo, o que cheiro e o que amo.

E amo, amo muito. Amo a vida, a praia, o mar, o sol, a areia, o amor de areia, mas também o campo e a cidade, as crianças, as memórias, as flores, o rebolar num campo de margaridas em plena primavera, o comer as uvas às escondidas, na videira, em Setembro, o percorrer as searas de trigo, o deitar no chão e olhar o céu…

Ai o céu, as estrelas e a noite, calma, silenciosa, um tempo infinito livre para os sentimentos, os beijos que se dão e se roubam, para a paixão, para a paixão pelas coisas simples, pelo cheiro ao frango de churrasco, o cheiro do mar em mês de verão, pelo aroma da terra após uma trovoada em dia quente, pelo sentar numa esplanada no final da tarde e sentir a brisa fresca invadir-nos, e por olhar-te... sim olhar-te a ti sorrindo com esse olhar meigo de quem ama.

Mas a este espaço também pertence aquilo que odeio. Não é que odeie muita coisa, na verdade, sou demasiado simples para odiar muita coisa ou muito intensamente, odeio apenas os sentimentos opacos e as luzes sombrias.

Por isso este blog não tem uma "linha editorial", não vale a pena procurarem, aqui estão o sonho e a realidade, a dor e a alegria, as ilusões e a desilusões, tudo!

Porque este blog... Sou Eu.


12 de agosto de 2004

Deixa-me Olhar

A lâmpada do farol fundiu.
Por isso, hoje, tive de pedir uma luzinha emprestada.


DEIXA-ME OLHAR
Artistas: Além mar

Noites sem ti
Onde me perco
Procuro por mim
Na paixão do incerto
E saber que me amas
Mas mesmo assim
Basta p'ra ti
Dizeres que sim
Mesmo quando eu vou
Gostares de mim
Pelo o que eu sou...
E deixa-me olhar
Deixa-me perguntar
Se gostas de mim nas noites
Que eu passo sem ti
Sempre que eu te vejo
Perco-me na luz da noite
E sempre que eu te beijo
Fico sem medo do som


11 de agosto de 2004

Quem me dera...

"Quem me dera ter-te aqui."

Esta frase, aparentemente banal, podia muito bem marcar o início ou o fim de um diálogo, ou nem uma coisa nem outra, contudo, apesar da sua simplicidade esta é sem dúvida uma mensagem que encerra uma luz resplandecentemente bonita.

Um olhar atento sobre esta singela frase revela-nos o sentimento de uma pessoa, alguém que se sente só, que deseja ter outra pessoa ali com ela. A frase não especifica, mas imagino imediatamente um telefone ou telemóvel, talvez uma carta ou e-mail, um homem e uma mulher.

Claro que a frase podiam ser proferida por dois amigos, duas amigas, dois irmãos, parentes ou até dois estranhos. Pouco interessa, o que importa é o que eu sinto e eu vejo um rosto triste com olhos marejados pela saudade de uma mulher, ou vice-versa.

A falta é um elemento omnipresente nesta frase, a falta de alguém que se quer muito, que se deseja ter ali, do beijo, da carícia, do abraço apertadinho que nos aquece mais por dentro que por fora.

A sombra de um amor ausente assombra descaradamente esta relação, os sentimentos afloram a cada palavra até à última letra, a mensagem de amor não termina ali, vai mais além, na vontade de estar onde não estamos, quase podemos sentir a amargura de um amor dilacerado pela separação, uma separação forçada, porque não podemos, porque não nos deixam, porque..., porque..., porque, tantas são as possibilidades, mas queremos, e é a consciência deste desejo, desta vontade de partir que nos vai mutilando por dentro.

É assim que se constrói a saudade, com a vontade de estar onde e com quem se deseja, mas não se pode.

Claro que vocês, podem não ver nada disto nesta frase, talvez na verdade eu seja apenas um sonhador e a esta visão, não seja mais que uma vontade imensa de sonhar.

Quem me dera ter-te aqui!


Segredos

Perguntava-me ali em baixo, numa caixinha de comentários, a grande maga dos sonhos, sobre os segredos do farol e do faroleiro.

Nada mais claro, o farol não encerra nenhum segredo, é apenas uma fonte de luz, de uma luz que não faz bem guardar dentro de nós, pois corremos o perigo que esta nos cegue ou nos queime com a sua intensidade.

Quanto ao faroleiro, esse sim encerra em si mil e um segredos, tantos quantas as mil e uma noites. Se assim o desejares Catarina, mil e um sonhos, alguns revelados e muitos, muitos por revelar.

Imagina que o Faroleiro é uma árvore, forte e sensível, de onde partem ao encontro do céu, muitos ramos que são os sonhos, claro que sem o tronco nunca existiram os ramos, eles são uma extensão daquilo que o tronco come, bebe, sofre, no fim, de como se sente e absorve o mundo à sua volta.

Claro que, se me tivessem colocado esta questão há uns meses atrás teriam obtido definitivamente uma resposta diferente, a lei da imutabilidade não se aplica aqui, porque os sonhos são assim, uns partem outros chegam, como os ramos, uns quebram e outros nascem, num ciclo de renovação de vida.

Não julguem que estou a falar de um cata-vento, não é nada disso, o Faroleiro não anda ao sabor do vento. Os sonhos são alicerçados em sentimentos e esses, no seu estado mais puro, são imutáveis, nascem e morrem connosco.

É certo que outros sentimentos há, que nascem e se extinguem com o tempo, a vida e as suas agruras, mas esses normalmente são o resultado de sonhos, tantas vezes desfeitos e não a fonte dos sonhos.

Aprendi que sonho porque estou vivo e que vivo para sonhar.
Num ciclo que se perpetua até à exaustão.


10 de agosto de 2004

Castelo de Areia

Sonho de Verão
Amor de areia
Construido em forma de castelo
Não no ar
Mas muito
Demasiado perto do mar.

Beijou-o o mar
Sem hesitar
Resistiu a gritar
Quero aqui ficar
Não, não me vais abalar,
Mas o mar
Sempre a tentar
Mais um pouco levar.

Gritou mais alto
Quero aqui ficar
Na areia a amar,
Vai-te embora ó mar!
Não nos queiras separar
Uma grande luta para travar
Com as forças sempre a fraquejar
Mas ao mesmo tempo
Uma enorme coragem a brotar
Para aquele oceano de adversidades enfrentar.


Coisas Simples

Levantou-se com a agradável sensação que aquela manhã lhe traria uma surpresa. Tomou o pequeno-almoço e pela janela observou o cinzento dominante no céu, talvez fosse aquele facto inusitado para um mês de verão que lhe proporcionava a estranha sensação.

Abriu a janela e confirmou que estava frio. Acompanhou o pólo e os jeans com uma camisola navy blue grossa, e dispôs-se a sair para um passeio matinal. Vagueou sozinho, como era normal, um costume que já o incomodava. Não se sentia bem sozinho, gostava de passear, mas sentia a falta de uma mão, um ombro, dois pés e uma voz, uma voz meiga.

As ruas estavam desertas, aqui e além, pessoas sozinhas vagueavam sem sentir, sem ver um destino. Olhou com curiosidade para alguns daqueles rostos. Expressões duras, algumas apáticas, perdidas, olhos escuros, sem luz. Que bom seria ver todas aquelas caras sorrindo, com esperança, olhar aqueles olhos e ver sonhos.

Mas não, era tudo cinzento, como aquela manhã. Pensou depois como estaria a sua cara, seria também o cinzento a cor dominante. Aproximou-se da montra de um café na expectativa de observar a sua expressão, mas ao mesmo tempo teve receio, receio de descobrir que era também assim que as pessoas com que se cruzava o viam.

Ganhou coragem, olhou e viu, viu aquilo que já sabia, mas há tanto tempo escondia. Os seus olhos espelhavam a morte, a morte da sua alma, dos seus sonhos, da esperança. A pele espelhava nos sulcos o desencanto de uma vida amarga e triste. A barba de dois dias e o cabelo descomposto pelo vento também não ajudavam.

Olhou com mais atenção procurando um sinal de esperança naquele rosto triste e cinzento, mas as suas tentativas intermináveis acabavam sempre num beco sem saída, no final de uma das rugas do seu rosto.

Foi então num momento mágico que reparou que alguém do lado do dentro do café o observava, possivelmente desde que parara em frente à montra. Era bonita, vestia uma camisola de lã grossa branco sujo, uns jeans e nas costas da cadeira onde se sentára repousava um impermeável.

Ela sorriu-lhe e com um gesto simples perguntou-lhe se queria tomar café. Os seus olhos recobraram a vida e um sorriso nasceu nos seus lábios.

Afinal, muitas vezes, é necessário apenas um gesto simples e sincero para dar nova vida a uma alma dorida e triste.


9 de agosto de 2004

O Segredo do Farol

Porque todo o farol encerra um si uma história, um segredo, um faroleio e um sonho azul.



Sonhar

Deixei esta prosa nos comentários da Catarina, mas não resisti a colocar também aqui, para quem não seja cliente dos sonhos dela, o que, diga-se de passagem é quase um crime.

É bom sonhar,
faz-nos sentir especiais
pensar o impensável
"emaluquecer" de forma sadia
olhar o céu e voar
mergulhar no olhar de uma sereia e nadar
beijar uma flor e gostar
amar a terra e a vida sem parar
é ter algo só nosso para partilhar.


8 de agosto de 2004

Sonho de Uma Tarde de Verão

Entrou na sala amplamente iluminada pelo sol radioso daquela tarde que teimava em tocar todos os recantos daquele espaço.

Na mesa, junto ao cadeirão, viu o livro que apaixonadamente lia desde há dias. Aproximou-se e pegou-lhe. Com a ajuda do marcador, detectou as últimas palavras que lhe tinham arrebatado a alma. Inadvertidamente começou a ler, de pé, descontraidamente.

Sentiu o calor, o sol da tarde tornava aquele recanto acolhedor no Inverno, mas no Verão podia ser deliciosamente incómodo. Dirigiu-se à porta que dava para a varanda, que abriu para deixar a atmosfera exterior acompanhar os raios do sol. Olhou em direcção ao cadeirão e resolveu sentar-se, sempre estava mais confortável para a sua leitura.

Já sentado continuou calmamente a sua leitura. Pela porta entreaberta entrava uma música que lhe era familiar, Rita Lee cantava “Desculpe o auê, Eu não queria magoar você, Foi ciúme sim, Fiz greve de fome, Guerrilhas, motim, Perdi a cabeça, esqueça. Da próxima vez eu me mando, Que se dane meu jeito inseguro, Nosso amor vale tanto, Por você vou roubar os anéis de Saturno”.

Leu meia dúzia de páginas e começou a sentir os olhos perderem-se rumo ao infinito, um mundo desconhecido de sonhos azul celeste. Tentou resistir, mas num instante o livro caiu sobre o seu peito ainda aberto. Tinha adormecido placidamente.

Já a dormir sentiu-a aproximar-se, não que ela tivesse anunciado a sua chegada, bem pelo contrário. Chegara silenciosamente e colou-se imediatamente a ele. Começou a acariciar-lhe o rosto. Depois secou-lhe os lábios, tocou-lhe o nariz, os olhos e por fim desmaiou perdida nos seus cabelos.

Tinha um toque extremamente suave e fresco, com um aroma a mar. Jamais esqueceria aquele perfume. Percebeu que ela avançava em seguida em direcção ao seu tronco, mas não sem antes depositar um leve frescor nos seus braços descobertos. Levantou a T-shirt, apenas o suficiente para poder percorrer entrar e percorrer o seu tronco, indo acabar a tocar-lhe o pescoço, através da abertura superior.

Mais atrevida, passou pelas suas pernas e espreitou o interior dos seus calções. Entrou decidida a investigar todos os rincões do seu corpo, deixando à sua passagem um rasto doce e agradável de frescura. Era uma sensação incrivelmente boa, aquela de ser tocado intimamente de forma tão segura e meiga.

Foi então que um ruído perturbou aquela união e o despertou. Era ela, a sua menina bonita que acabava de fechar a porta da varanda. Sem se aperceber ela tinha fechado lá fora a brisa com sabor a mar, que tão sensualmente o tinha refrescado enquanto dormia.

Então olhando para ela com um ar traquina e desafiador, ele disse-lhe:

- Não me vais deixar assim carente..., sem os mimos da brisa do mar que acabas de fechar lá fora?

- Claro que não!

Respondeu ela, enquanto avançada para ele com o rosto iluminado por um sorriso meigo e um olhar profundamente apaixonado.


6 de agosto de 2004

O Valor dos Sonhos

Tinham por várias vezes falado de sonhos, mas aquele era um assunto em que ela nunca se descosia, por mais que ele procurasse penetrar mais um pouco na sua alma dorida, nunca o deixava avançar nem um pouquinho.

Às vezes sentia curiosidade por saber mais da vida dela, dos acontecimentos passados, dos medos presentes e futuros. Não, não a queria "psicanalisar", desejava apenas perceber algumas contradições com que tropeçava naquela menina bonita que o encantava, mas que, por vezes, se fechava como uma ostra que protege a todo o custo o seu tesouro, a sua pérola, só que neste caso ele pensava que ela não estava a proteger um tesouro, era algo diferente que não queria classificar, quem era ele para isso?

Ficava apenas com a sua ideia, uma ideia muito vaga com o pouco que dela sabia.

Minha querida - disse-lhe - também eu queria ter a resposta para os sonhos, mas não tenho, mas sei que para obter respostas é necessários perguntar, indagar, investigar e acima de tudo ter muita vontade de obter as respostas. Temos de ser capazes de dizer que sonhamos, com o que sonhamos, de partilhar os nossos sonhos e não ter medo de sonhar, de cair das nuvens e voltar a montar, a voar e a sonhar.

Sonho contigo todos os dias, e não desisto de sonhar, embora alguns dias caia da nuvem e fique dorido, mas imediatamente levanto os olhos em direcção ao azul dos teus olhos e procuro uma nova nuvem para voar, salto para o seu dorso e lá vou eu a voar e a sonhar, sonhar contigo.

Os Sonhos são um prato para ser saboreado a dois porque é também a dois que são mais fáceis de realizar. Ter ali aquela mão amiga que se estende quando a necessitamos, para em seguida a agarrarmos quando é ela que necessita ser amparada.

É verdade que para cozinhar um bom prato são necessários bons ingredientes, mas necessitas também de um bom cozinheiro e umas quantas especiarias para o temperar. Depois necessitas de alguém que o saboreie contigo e diga com amor: "Querida, está delicioso!".

Sem este último "ingrediente", todo o sonho de um prato perfeito de pouco vale.


Saudade... de hoje

Terminara o passeio matinal. Era uma rotina, quase uma obrigação, uma obrigação de paixão. Sentir a brisa fresca com aroma a maresia entrar pelo olfacto, o sol que se espreguiça, atirando raios de luz que varrem a infinita superfície azul do mar, era isso que fazia pulsar o sangue nas suas veias.

A visão da imensidão daquele espelho de água, faziam-no sentir extraordinariamente pequeno. Pensava na minúsculas coisas da vida, aquelas que ignoramos enquanto estamos muito ocupados a representar papéis muito sérios, quantas vezes estranhos e vazios. Personagens ocas de sentimentos, de vida, com um relógio no braço e uma agenda na mão. Datas, dias, horas, compromissos, dívidas, tudo tão importante, mas se diluídos naquela vastidão de oceano de água, que restaria?

Sentou-se na escada. Limpava a areia dos pés grão a grão, quase como uma penitência. Não queria ir embora, mas os compromissos... esses, sempre esses.

Na verdade queria permanecer ali, aquele era o seu refúgio, um porto de abrigo para a sua alma. Uma alma dorida, magoada, mortalmente ferida pela saudade dela.

A saudade, também ela. Como pode doer sentir a falta de alguém. Mas, pior é mesmo sentir falta de alguém que não se conhece, do que não se teve, mas que cá dentro, bem no fundo do nosso ser, sabemos que existe e que a queremos muito...

...tanto quanto o ar que respiramos para viver.


Dar e Receber

Dar muito e receber
Não exigir
Talvez
Apenas pedir.

Melhor mesmo
Não pedir
E
Mesmo assim
Receber.

Dar
Dar e não contar
Beijar
E gostar
Com o olhar
Simplesmente
Acariciar.

Melhor mesmo
Muito melhor mesmo
Amar
Amar e não pensar.


5 de agosto de 2004

Os Sonhos...Tema Recorrente

"Depois acabei de um trago o meu copo, como um velho pirata, e levantei-me a tossir, disposto uma vez mais a contemplar no espelho do mar os meus sonhos"

Assim escreveu José Manuel Fajardo.

Não pude deixar de me identificar com este personagem, não com todo, apenas com aquele que olha o mar e vê nele os seus sonhos. Isto levou-me a reflectir sobre uma série de frases feitas.

A primeira é que: "é bonito sonhar"

Claro que é bonito sonhar, todos deveríamos sonhar. Mas sonhar, implica sentir falta, ausência, vazio, ou seja, sonhamos com aquilo que não temos, mas desejávamos ter. Aqui reside toda a questão, o ideal mesmo seria não sonhar e ter, ter tudo.

Já sei que é utópico, mas hoje estou assim, meio amargo!

Outros dirão: "sonhar é importante, pois faz-nos sentir vivos, ter objectivos"

Também é verdade, pobres de aqueles que navegam à toa pela vida, contudo o simples facto de termos objectivos não serve de muito, se não tivermos alguém ao nosso lado com quem partilhar esses sonhos e esses objectivos. Para abraçar, beijar, rir e chorar de alegria quando os atingimos e para nos confortar quando esses objectivos parecem mais afastados que o pôr-do-sol no horizonte.

Olha Duende, continua aqui a saga dos sonhos, estás a ver? Pois é, começou como teu post e desde então nunca mais os larguei.

Há até quem se dedique a fabricar sonhos, o que é muito bonito, assim todos aqueles que não são capazes de sonhar sempre podem consolar-se como os sonhos de outros e talvez, quem sabe, identificar-se com eles.

Obrigado Catarina!

Também tu, Mar há alguns dias (01.08.2004) te cruzaste com eles: “Mais vale sonhar com o impossível do que não ter nada com que sonhar...”

Talvez tenhas razão Mar, talvez? Não! Tens mesmo razão!

Mas os sonhos também podem ser arpões muito sangrentos, porque depois de espetados é necessário rasgar a carne para os retirar e isso dói e dói muito.

O melhor mesmo será sonhar com estrelas cadentes, príncipes, sereias, pó mágico de estrelas e com um mar imenso que nos beija sempre que o desejarmos, bastando para tal estar juntinho dele.
Mas também é necessário cuidado, pois esse mesmo mar, por vezes entusiasma-se e beija-nos com toda a intensidade. Depois é ver-nos todos encharcados.

Estou, decididamente, a necessitar férias!


4 de agosto de 2004

As Marcas

Passeava lentamente à beira-mar. A tarde estava quente, mas não um calor daqueles que abafa a vontade, era um calor tépido de conforto. Enquanto passeava, olhava as pessoas que, juntas, consigo se cruzavam. Procurava em cada rosto solitário, como o seu, a sua alma gémea, aquela que o destino lhe tinha roubado num momento de crueldade infinita.

Era bonito ver aquelas pessoas a caminhar juntas, conversando sobre futilidades, rindo, respirando, partilhando momentos que não se repetem, pelo menos não da mesma forma, nem com a mesma intensidade.

Por vezes sentia uma vontade estúpida de olhar para trás. Queria ver como o mar apagava os fragmentos da história que ia deixando espalhados pela areia. Marcas de uma solidão forçada, que os seus pés imprimiam numa folha de papel castanha, apagada vezes sem conta pelo mar azul. Era esse o seu verdadeiro desejo, ver o mar apagar as marcas da sua dor.

Imaginou-se a correr por aquele mesmo areal e viu surgirem na folha de papel castanha marcas de pés que seguiam a par. Aqui e além distanciavam-se, mas depois voltavam ao seu rumo original num paralelismo quase perfeito. Por vezes pareciam divergir, para depois aumentar a frequência, em alguns instantes o espaçamento aumentava, mas depois, no fim, apareciam sempre muito juntas, com uma confusão de marcas num espaço diminuto, sobrepondo-se umas às outras.

Queria perceber aquele enigma, o enigma daquelas marcas que ora estavam juntas, ora se separavam com num bailado. O seu pensamento, com a imaginação toldada por uma sobrevivência indolente, não conseguia formar uma imagem clara da origem de tão extraordinário fenómeno, afinal ele sempre vira somente duas marcas que seguiam sós.

Sentou-se de frente para o mar, nas areias douradas, lançou o olhar sobre o infinito horizonte azul e pescou um barco que, vigiado por gaivotas, procurava na imensidão do oceano a força para continuar a viver.

À sua frente um casal de jovens quebrou-lhe o olhar. Seguiam juntos, a par. De vez em quando ela, ou ele, afastava-se em direcção ao mar para apanhar uma concha ou pedra que observavam em conjunto, ou simplesmente para uma brincadeira de água. Depois corriam, um atrás do outro, até que, por fim, juntos se abraçavam e beijavam. Nesse momento sentiu que o seu enigma estava solucionado.

Em falta, apenas, mais dois pés...


O Final, ou Talvez Não...

Quando todos pensavam que o caso terminara por ali, uma estação da concorrência, abre o seu noticiário de prime time, com a indicação que tinham sido descobertas no arquivo do Ministério os milhares de cartas enviadas pela população da vila.

- Afinal as cartas da população da vila foram recebidas e estão arquivadas no ministério conforme nos foi confirmado por uma fonte anónima, como é possível verificar por estas imagens que nos foram cedidas - relatava a jornalista.

- Aparentemente foram dadas instruções para a destruição das cartas, mas como não foram cumpridas as formalidades burocráticas a sua destruição nunca ocorreu.

O Sr. José, funcionário dos arquivos de vários ministérios desde... desde há anos suficiente para obedecer cegamente à regras burocráticas, tinha decidido não destruir as cartas uma vez que não lhe foram entregues os formulários modelos 10.071, 12.658d e 1.369, com as assinaturas e carimbos necessários. Conhecedor das consequências dos seus actos naquelas condições decidiu arquivar em silêncio toda a correspondência da vila. Era a luz da salvação.

Confrontado com a situação, o ministro desfez-se em explicações e reafirma que nunca dissera que as cartas não tinham sido recebidas pelo Ministério, mas sim, que ele nunca as tinha visto pessoalmente.

O Primeiro-ministro, continua a afirmar que não vê razões para retirar a confiança ao Ministro, afinal era verdade que ele nunca tinha viso pessoalmente as cartas e além disso ainda corria o processo de averiguações.

Entretanto o Faroleiro recebe um ofício assinado pelo Ministro, anulando a decisão anterior, assegurando a sua permanência do Farol da Vila.

Teve vontade de Subir a correr a longa escadaria do farol, abrir a porta e saiu para o varandim e gritar, gritar com toda a força o nome da sua Sereia e como a Amava. Seria o sinal de que a luz do amor tinha vencido mais uma batalha de uma guerra interminável, mas não o fez.

Apesar desta batalha estar ganha, ainda tinham um mar, um oceano vasto de problemas que deveriam sulcar, mas agora sabia que o velejariam juntos e isso confortava-o.

Sem dúvida aquela era uma boa notícia e uma nova luz de esperança e confiança abrilhantava agora aquele amor.


Comunhão

Tesão de paixão
Que incendeia o coração
Acende o fogo da emoção
E nos conduz pela mão
A mão que acaricia
E adormece a solidão
A mão que arrepia
A alma desnuda
Em pele convertida
Dedos que a percorrem
Com emoção escondida.

Quero sentir-te
Anseio beijar-te
Quero o doce toque da tua pele
Na minha a queimar
Calor, calor e mais calor
Corpos colados com paixão
Uma cama desfeita
Em sinal da mais bela comunhão.


3 de agosto de 2004

Sussurros e Gemidos

Chegaram os dois quase ao mesmo tempo. Sem perderem tempo abraçaram-se com vigor. Ao fim de alguns instantes, ele, afastou com delicadeza os seus cabelos ondulados que cobriam o ouvido direito. Depois com uma voz melada segredou-lhe algo.

Um dos braços dela, que até aí lhe afagava o pescoço moveu-se. Deslizou ao longo do seu braço percorrendo as costas dele, até atingir a cintura. Procurou o bolso de trás das calças onde introduziu a mão.

Ele, trocou de lado, beijou-lhe longamente o pescoço até atingir a orelha, onde mais uma vez, num sussurro mudo depositou uma mensagem. Ela afastou-o um pouco e sorriu com uma expressão travessa de reprovação. Ele aproveitou o afastamento e beijou-lhe apaixonadamente devagar os lábios húmidos.

Em seguida, ela retirou a mão daquele bolso e procurou o bolso frontal. Ao introduzir a sua mão, ele riu e murmurou algo que lhe valeu o epíteto de "parvo" e um beliscão.

Mas ela não desistiu, estava determinada, a sua mão indagadora continuava a busca enquanto ele ria.

Por fim retirou a mão, momento que ele acompanhou com um sorriso de satisfação e um leve gemido.

Na sua mão, ela tinha agora um estojo.

Lá dentro uma jura de Amor que ele colocou, como quem dá um beijo, no dedo dela.


A Entrevista

Sendo um caso que envolvia políticos, a notícia assumiu destaque nacional nas rádios e noticiários das televisões. Uma das estações anunciava já a entrevista em directo com o ministro para essa noite.

Durante o dia, foi ver a corrida dos jornalistas pela vila tentando entrevistar todas as pessoas, queriam filmar o local dos encontros do Faroleiro com a sua Sereia, alguns inclusive, afirmavam com certeza que o local onde se encontravam tinha sido onde se dera o primeiro encontro.

Até o desbocado do João Areias, teve direito aos seus trinta segundos de glória para dizer que a ideia das cartas tinha sido dele e que nunca duvidara da existência da Sereia.

O Faroleiro é que estava perturbado por todo aquele movimento, pois nessa noite não poderia ir ver a sua Sereia, pois os jornalistas seguiam-lhe os passos como sombras. Telefonou a Francisco que o acalmou.

- Deixa lá, que ele apenas vão ficar uns dias, amanhã ninguém se lembra de nada e com todo este barulho sempre quero ver o que diz agora o Sr. Ministro.

No jornal da noite, lá estava o Sr. Ministro sentado à esquerda da apresentadora para explicar o insólito caso do afastamento de um Faroleiro com uma folha de serviço exemplar, apenas porque tinha afirmado que vira uma sereia.

Começou a entrevista:

- Boa noite Sr. Ministro. Como explica o Sr. este caso da transferência deste Faroleiro?

- Boa noite Manuela, como deve compreender o Ministério rege-se por princípios muito rígidos de qualidade dos serviços prestados pelas nossa estruturas e não podemos correr o risco que os problemas de alguém ponham em causa a segurança de milhares de marinheiros que contornam a nossa costa. Somos um país de mar e turismo, e como tal temos a obrigação de assegurar as melhores condições aos visitantes quer no mar quer na terra...

- Claro que sim Sr. Ministro, mas não lhe parece despropositado o afastamento de um funcionário com uma folha de serviço exemplar, só porque duas cartas anónimas chegadas ao Ministério o acusam de ter "visões"...

- Bem, o facto de serem cartas anónimas, não exclui a necessidade de averiguar os factos

- E como foram eles avaliados Sr. Ministro? - Interpôs a locutora.

- Bem, eu já assinei o despacho que instaura um processo de averiguações...

- Que ainda não está concluído nem sequer iniciado, não é?

- Bem - disse o Ministro - sabe que é necessário algum tempo para a publicação do despacho, a constituição da comissão de investigação, essas coisas requerem o seu tempo...

- Claro que sabemos Sr. ministro, todos os dias assistimos a casos iguais. Mas entretanto transfere-se o funcionário sem lhe dar a hipótese de refutar os factos que lhe são imputados. Já agora Sr. Ministro, o Sr. acredita em Sereias?

- Manuela! Como você sabe muito bem, todos aprendemos na escola que as sereias pertencem à mitologia e como tal não existem.

- Pois Sr. Ministro, então vai ter de dizer isso ao meu marido, pois ele trata-me regularmente por “minha Sereia”...

- Bem certamente, esse é um tratamento carinhoso, mas que não corresponde à verdade.

- Isso não vou discutir com o Sr. Ministro, como deve compreender, mas tenho aqui outra questão. E as cartas que toda a vila afirma ter enviado para o Ministério, onde estão?

- Não sei, o que lhe posso assegurar é que não tive na minha mão nenhuma dessas cartas...

- Mas não foram recebidas no Ministério?

- Bem como deve compreender, eu não vejo todo o correio que chega ao ministério, para isso temos serviços próprios, o que posso garantir, como já lhe disse, é que não vi pessoalmente qualquer dessas cartas.

- Informam-me da régie que o Primeiro-ministro acaba de chegar à inauguração de mais um complexo lúdico na capital, para onde seguimos em directo para colher a sua opinião relativamente a este caso.

- Sr. Primeiro-ministro, qual o seu comentário a este caso do Faroleiro da Vila.

- Como já tive oportunidade de expressar ao Sr. Ministro do mar, tenho absoluta confiança nas suas decisões e acredito que se tomou a medida que tomou, foi no estrito interesse do país. Sei que também já mandou instaurar um processo de averiguações e até à sua conclusão temos que aguardar pacientemente as conclusões. Não faço mais comentários meus Senhores. Boa-noite.

Com estas palavras, o Primeiro-ministro, que o era por acaso, como o Francisco era Presidente da Junta da vila, disse aquilo que todos já sabiam, mais um processo, mais averiguações...

e no fim tudo igual, tudo às escuras, nem uma luzinha.


2 de agosto de 2004

Namorar

Saiu e foi tomar café. Teve sorte com o pacote de açúcar que o empregado propositadamente, ao acaso, escolheu para lhe colocar no pires. Dizia:

"Namorar é a melhor coisa do mundo"

Leu e pensou, "é verdade, então a ver o pôr-do-sol, ouvindo, abraçadinhos, uma música calma, nada se lhe compara."

De repente foi atacado pela luz da saudade, saudade do que nunca teve oportunidade de fazer com ela.

P.S.: a marca do café era Buondi... se isso interessar a alguém.


1 de agosto de 2004

Sonhos e Ilusões

Sonhos e ilusões
Acções e reacções
Enganos e desenganos
Assim se vive
Ano após anos

Empoleirado em nada
Temente a tudo
Esperanças toldadas
Num grito mudo

Viver sem amar
Perder, perder e nunca ganhar
O sentimento forte e doce.
Uma vida sem saborear

O desejo de uma paixão a queimar
Uma ferida aberta a sangrar
O doce amargo sabor do amor
Num coração a palpitar

Palpita o desejo
De um dia te encontrar
Te tocar, acariciar e beijar
E depois
Depois...
partir para não mais voltar.


O Jornal

A vida continuava na vila e Francisco desesperava um pouco mais a cada dia que passava. Numa sexta-feira, acordou muito cedo e decidiu ir para a junta despachar uns papéis que tinha deixado acumular. Nos dias anteriores não tinha conseguido concentrar-se e os assuntos da Junta ameaçavam já começar a cheirar mal em cima da sua secretária.

Chegou à Junta ainda de madrugada. Entrou por uma porta lateral e foi directo ao seu gabinete, onde começou a despachar os processos pendentes. Depois, pontualmente, chegou Júlio que também andava preocupado com o atraso dos assuntos, pois era ele que todos os dias tinha de dar as más notícias às pessoas que se dirigiam à secretaria.

Ficou satisfeito ao ver Francisco sentado no seu gabinete a despachar. Foi até lá e cumprimentou-o informalmente já que não Havai mais ninguém no edifício.

- Bons olhos te vejam por aqui a despachar. Já estava preocupado contigo, bem... contigo e comigo, que qualquer dia ainda me batiam ali na secretaria por causa dos atrasos.

- Acordei cedo e olha, vim despachar tudo. Que horas são?

- São horas de tomares um café e uma torrada - disse Júlio - Deixa-te estar que vou ali ao café buscar-te algo.

Dizendo isto saiu e dirigiu-se ao café em busca de um pouco de conforto para o seu amigo. Francisco continuava a despachar os papéis quando Júlio lhe entra pelo gabinete esbaforido, gritando:

- Francisco, já viste o semanário de hoje? Agora é que vai ser lindo... Largaram a bomba e logo na primeira página!

- Ó Júlio, claro que não vi o semanário! Entrei para aqui às 05:30, como querias que tivesse visto? Mostra lá!

Nesse momento Júlio desenha uma expressão de vergonha e culpa, enquanto se explica,

- Desculpa, mas com a emoção, nem trouxe o jornal, mas vi o título na primeira página vim imediatamente para aqui e nem me lembrei de o comprar...

- E qual é esse título?

- “Ministro do mar não gosta de sereias” - Disse Júlio.

- Vai depressa Júlio e traz-me um jornal, rápido, rápido. Mexe-te homem!

Júlio volta momentos depois com o jornal na mão. Lá estava em parangonas, o título que Júlio descreveu, juntamente com uma foto do ministro e a representação de uma sereia. Júlio não tinha exagerado, o destaque era brutal. O título e as fotografias ocupavam três quartos da página.

Francisco abriu o jornal e leu a notícia completa. Estava lá a história toda, pormenores da reunião, da vida do Faroleiro, do seu empenhamento, do desaparecimento das cartas no ministério, tudo.

Aquilo intrigou-o. Como poderia o jornalista saber tantos pormenores se ele não tinha dado conta de ninguém a fazer perguntas pela vila? Seria o visitante misterioso, jornalista?

Parou com estes pensamento uns instantes para delinear um estratégia, pois sabia que agora a exposição seria enorme, tinha de articular algumas ideias.

Estava absorto pela delineação da estratégia, quando lhe entra pelo gabinete a sua adorável esposa.

- Francisco, já viste o jornal de hoje?

- Já querida. Agora sinto que o final que desejamos vai por fim chegar...

- E sabes quem é o teu ajudante misterioso?

- Não. E tu, sabes?

- Foi um simples acaso, querido, Hoje pela manhã folheie por acaso uma daquelas revistas que todos os dias adquirimos para a sala de convívio do hotel e encontrei o teu ajudante. Eu sabia que o conhecia...

- E quem é ele?

- Nada mais que o proprietário do jornal onde saiu a noticia.

- Bem isso explica tudo.

- Esta luz no fundo deste mar de desencantos é um milagre! - Disse por fim


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