17 de junho de 2004

Liberdade

Subiu ao cimo do farol. A manhã estava linda de morrer.
Apoiou as mãos no resguardo do varandim e inclinou-se perigosamente para a frente, como quem procura a mais íntima comunhão com a beleza da paisagem daquele dia.
O sol subia seguro no horizonte, beijando-lhe os olhos, iluminando o mar e conferindo-lhe reflexos de um brilho invulgar.

Elevou os pés e inspirou profundamente, procurando absorver o máximo daquela manhã e sentiu todo aquele mar encher-lhe o coração.

A sensação de liberdade, segurança e conforto que lhe proporcionava subjugou de forma avassaladora o seu pensamento e levou-o a inclinar-se mais um pouco. Sentiu-se invadido pela adrenalina do perigo que lhe proporcionava uma corrente de sentimentos difíceis de explicar.

Sentiu-se livre, livre como aquele mar que tão profundamente desejava.
Ser livre para viajar, percorrer os leitos dos rios e mares, acariciar os peixes, beijar as pedras e escarpas e por fim repousar nas alvas areia das mais belas praias.

Elevou o olhar para uma gaivota que alheia aos seus desejos de liberdade, voava, voava livre, livre de fronteiras e de outros limites que não a sua força e a vontade de ir mais longe, sem restrições, mas com um rumo bem definido.

De repente voltou à posição original, endireitou o corpo. Suportou o peso nos calcanhares que voltaram a sentir terra firme ao tocarem a plataforma e subitamente, como alguém que é expulso do paraíso e devolvido à realidade reflectiu sobre a liberdade.

Concluiu que esta é simplesmente mais uma forma de prisão, é estar preso...a nada.


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