Presente de Natal
Ontem recebi um presente de Natal. Foi um "Pai Natal" modernaço que me o enviou via e-mail. Uma completa surpresa. Nunca ninguém me tinha enviado um presente daqueles. E foi assim mesmo que fiquei, como este texto, meio baralhado a repetir-me.
Mas é que foi uma grande surpresa, ainda mais quando vejo que tenho amigos, ou neste caso uma amiga, que escreve coisas tão belas e tão cheias de significado. Pergunto-me muitas vezes, como alguém que escreve como ela vem olhar o mundo a partir do varandim deste farol. Tenho a sensação que o seu mundo é bem mais colorido, tem mais brilho e luz que aquele que se vê reflectido nas ondas do mar que banham os pés deste farol.
Já por várias vezes equacionei apagar de vez a luz deste farol, umas vezes mais a sério e outras menos, mas tenho sempre voltado, acendo mais uma luzinha e espero, espero e espero… Espero ver olhinhos a brilhar na escuridão do horizonte longínquo. São essas estrelas a brilhar que me vão dando alento para, dia após dia, subir as longas escadas em caracol e acender mais uma vez a Luz do Farol.
É verdade que ultimamente não o tenho feito com tanta frequência, mas todos os dias cumpro o ritual – não de obrigação mas de paixão – de subir as escadas e lançar o olhar de faroleiro ao horizonte procurando algum sinal de embarcação em perigo. A mão, no bolso, protege-se do vento frio que nesta época assola esta fortaleza, na qual o mar liberta a fúria contida em muitos meses de calor e ameno clima.
Dizia que a mão, essa, esta sempre pronta a estender-se e como por magia, mergulhar nas água frias do oceano, de onde volta a elevar-se transportando na sua palma a frágil, mas corajosa embarcação, que leal e valorosamente desafia os enigmáticos perigos que a vida nos coloca incessantemente.
É por todas estas, poucas, muito poucas embarcações, que este farol vai resistindo, mas sinto que se está a desmoronar lentamente. O mar, esse, não desiste e continua a engolir e a esconder no seu seio a sereia de olhos transparentes, cujo reflexo, apenas uma miragem, um dia surgiu no distante horizonte. De forma continua, as ondas são arremessadas, uma e outra vez, por vezes com mais força, outras com dissimulada suavidade, contra as paredes desta fortaleza de luz que, a custo, vai mantendo uma postura firme e exteriormente insensível, mas que por dentro vai abrindo minúsculas fissuras que prontamente são cobertas com mais uma camada de pintura, mas com a certeza de que a prazo vão comprometer a sua estrutura.
Mas não era disto que vos queria falar, o que queria mesmo era agradecer a mão aberta que estenderam a este faroleiro e o presente que no seu interior transportava. São estas pequenas coisas, gestos singelos mas profundamente belos e sensíveis, que servem para tapar as brechas que o mar teimoso insiste em provocar.
Para ti, Isabel, algumas palavras:
Muito obrigado!
Que este e todos os teus Natais possam ter sabor a alegria, amor e paz. Sabor este, cujo direito foi conquistado no momento que abrimos os olhos para o mundo, mas que muita gente se esquece, quanto outros brilhos mais fúteis e efémeros lhes invade o olhar.
Um Santo e Feliz Natal.
Até sempre.
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