Mais Coincidências (II)
Na verdade não acreditava mesmo em coincidências, seria uma coincidência? Riu daquela pobre chalaça enquanto a vontade de ligar aquele número crescia ao sabor do calor daquela luz intensa que o tinha atingido.
Lentamente introduziu a mão no bolso direito do casaco de onde tirou um telemóvel. Deixou o olhar navegar sobre a superfície o mar e durante aqueles momentos de alheamento foi rodando o telemóvel na palma da sua mão.
Uma dúvida pairava sobre a sua cabeça como uma nuvem: deveria telefonar?
Que mais poderia fazer. Segurava na mão uma luzinha que apenas poderia provir de uma bela estrela, pura e cintilante. Não queria pensar mais, pois sabia que a sua racionalidade nunca poderia compreender o que estava a acontecer.
Lenta mas decididamente foi marcando os números, 9...6..2... no final a derradeira tecla verde e a espera. Do outro lado o inconfundível sinal de chamar, piiiiiiiiii,... piiiiiiiii...
De repente o espectro sombrio do medo do desconhecido assaltou-o e premiu a tecla vermelha. Ainda perplexo com a sua acção deixou-se cair vencido no areal. Não queria acreditar que tinha tido a coragem de virar as costas aquela luz, não! Como fora capaz?
Esticou o olhar até ao farol que, ao longe contemplavaos seus actos seguro e confiante face àquele mar tempestuoso e desejou ser corajoso como ele.
Sentido que não era merecedor de tal luz, enrolou a mensagem da Brisa do Luar que, cuidadosamente, introduziu novamente na garrafa. Colocou-se a rolha com força, assegurando-se que a água não poderia entrar. Então, levantando-se, correu em direcção ao mar e aproveitando o seu recuo momentâneo penetrou até onde o mar permitiu, para com um gesto intenso atirar a garrafa o mais longe possível.
Desejava perder de vista aquela luz cujo toque acabara de recusar de forma tão pouco digna. Ao deixar de a ver, perdida no meio das vagas pensou que, a partir daquele momento estavam os dois no mesmo barco, perdidos, sem rumo, à mercê das marés.
Coincidência?
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