Amanhecer
Acordou repentinamente. Instintivamente sentiu que tinha dormido pouco. Virou o olhar em direcção ao relógio em busca da confirmação e lá estava ela, 06:15, assinalava ele. Contudo, estava estranhamente fresco, apesar da enorme luta que travara nessa noite contra um mar revolto e caprichoso, que terminou já muito depois da 02:00, quando finalmente tinha conseguido lançar a âncora naquela baía, verdadeiro Porto Seguro.
Saltou da cama e o cheiro de café fresco invadiu-lhe o paladar. Lá fora o dia conversava com a noite e dizia-lhe que era hora de partir.
Preparou uma chávena de café bem doce, enquanto se vestia. De chávena na mão, subiu os degraus do convés, onde se sentou. Pousou com cuidado a chávena fumegante a seu lado e contemplou em silêncio o despertar de um novo dia. A imaculada calma dessa manhã era apenas cortada pelo chap...chap, produzido pelas ondas do mar a cada investida sobre o casco do pequeno veleiro.
A brisa do mar soprava, levou a chávena à boca e momentaneamente sentiu frio, nesse instante sentiu pousar algo sobre os seus ombros e atrás de si, uma voz meiga disse,
- Agasalha-te, que ainda está frio!
Ela sentou-se a seu lado. Ele rodeou-a com o seu braço e puxou-a para si. Estendeu-lhe a manta que ela lhe tinha colocado sobre os ombros e de mãos dadas ali ficaram, em silêncio, a observar como o dia nascia.
Os raios de sol iluminavam os seus rostos, mas na cabeça dele, pequenos barcos de papel pareciam continuar a luta anterior, dessa noite, contra um mar revolto e tantas vezes injusto.
Foi num desses momentos que olhou para ela e sentiu-se mergulhar nos seus olhos azul-turquesa, enquanto pensava se lhe devia dizer que a amava, afinal aquela era a sua primeira viagem juntos...
Ela, olhando-o com uma expressão meiga, num gesto de ternura, pousou suavemente dois dedos sobre os seus lábios e murmurou:
- Eu sei, sempre soube!
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