23 de junho de 2004

A Esplanada

Sentado numa esplanada, folheava o jornal com um evidente ar desinteressado. Os seus olhos pendiam em direcção ao mar que à sua frente se divertia com a alegria das brincadeiras das crianças e com a preocupação dos pais.
O fino à sua frente aquecia moderadamente, graças à sombra do toldo raiado a azul e branco.

Dobrou cuidadosamente o jornal pelo meio, colocando-o sobre uma cadeira que repousava desocupada a seu lado. Abstraiu-se do meio envolvente, e ficou ali como uma estátua que contempla de forma impassível a vida. Na sua mente uma torrente de pensamentos, que procurava compor, como quem procura encaixar as peças de um puzzle, na verdade aquele era mais um quebra-cabeças. As palavras inscritas na T-Shirt branca, que acompanhava as bermudas azuis, aclaravam qualquer dúvida "HELP ME, I'M LOST", por baixo, em letras mais pequenas:"Special message only for girls"

Foi acordado por uma voz que a seu lado lhe disse:

- Desculpe, esta cadeira está ocupada?

Sobressaltado, olhou para ela. Tinha o cabelo ondulado como o mar, com reflexos de luz do sol. Não aparentava ter mais de 25 anos, era mais nova que ele, isso de certeza. Olhou-a de alto a baixo com um ar provocador, que lhe valeu de imediato uma expressão de reprovação, ainda mais depois dela ler a mensagem estampada no seu peito. Por fim disse:

- Não, não está, pode sentar-se!

Ela sorrindo agradeceu-lhe e delicadamente recusou, dizendo que não procurava companhia, apenas lhe interessava a cadeira.

- Nesse caso... - respondeu ele, enquanto apanhava o jornal que repousava na cadeira, para o colocar sobre a mesa.

Ela sentou-se noutra mesa de frente para ele acompanhada por uma amiga, que por mérito exclusivo de seus pais não conseguia passar despercebida . Enquanto elas conversavam não podia deixar de reparar na forma como sorria. O seu sorriso tinha uma doçura especial, encerrava um reflexo de inocência ou a promessa de alegria eterna. Não conseguia afastar o olhar, daquele sorriso. Ela notou o seu olhar e ele, fingindo-se embaraçado, procurava disfarçar o pior que podia e sabia.

Assim estiveram algum tempo, até que a amiga dela se despediu e desceu a escadaria da esplanada em direcção ao areal.

Nesse momento, ele levantou-se e dirigiu-se à mesa dela. Lançou-lhe um olhar brincalhão, ao qual ela respondeu com um sorriso. Então ele, sentando-se na cadeira que a amiga tinha deixado vaga, perguntou:

- Sinto que conheço esse sorriso, mas não consigo lembrar-me de onde?

Ela sorrindo ainda mais, disse:

- És mesmo maluco...


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