Pôr-do-sol
Percorriam as ruas irregularmente empedradas da pequena vila. Não tinham um rumo definido, mas uma força arrastava-os em sentido descendente, sentiam que lá ao fundo estaria o mar. Numa ruela estreita foram invadidos pelo odor característico do frango de churrasco, não se tinham enganado, um pouco mais à frente, lá estava "Churrasqueira Tomás -especialidade: frango de churrasco".
Saciados pelo odor daquela rua seguiram o seu caminho. Não era propriamente verão, nas ruas pouco movimentadas, apenas algumas pessoas, tal como eles, passeavam, apesar do céu ter uma cor azul, um azul cristalino e o sol brilhar saudavelmente.
Por fim atingiram a marginal, num ponto em que a protecção natural das rochas tinha formado um pequeno areal, uma baía de areia, genuíno porto de abrigo para banhistas. Sentaram-se numa ponta do muro. Começava a sentir-se o frio característico de um final de tarde primaveril, mas as grossas camisolas de lã, de um branco sujo a dela e Navy Blue a dele, cumpriam sublimemente a sua função.
Sentaram-se longitudinalmente no muro, ele encostou-se a um pilar, abriu as pernas e ela encaixou-se entre as pernas dele, pousando a sua nuca no seu peito. Ele introduziu as suas mãos por baixo da camisola dela, indo repousar sobre o seu ventre num terno abraço. Ela colocou as suas mãos sobre as dele, por cima da camisola e ali permaneceram. Tinham tanto para dizer um ao outro, mas incompreensivelmente permaneceram em silêncio. Ouviam o doce ritmo do cantar das ondas a cada tentativa de reconduzir a água até à mãe terra.
Era curioso aquele ciclo da água, enquanto permanecia na terra, a água tudo fazia e todos os obstáculos procurava suplantar para atingir o conforto familiar que o mar lhe proporcionava e uma vez ali, parecia que o desejo era voltar novamente para os braços da mãe.
Ao longe, o sol parecia querer desesperadamente afogar-se no mar.
Assim permaneceram durante algum tempo, trocando carícias por baixo da camisola de lã. No momento em que o sol se entregava definitivamente ao mar, ela girou sobre si, ficando de frente para ele. Passou as suas pernas por baixo das dele até que estas o abraçaram e as dele a ela. Ele acariciou-lhe o rosto e ela sorriu. Aquele sorriso era mágico, emanava uma luz intensa que lhe proporcionava sempre uma serenidade imediata.
Enquanto ele olhava profundamente para os seus olhos transparentes, ela sem deixar de sorrir, tomou a iniciativa, aproximou os seus lábios dos dele, e beijou-o docemente.
Estava tudo dito.
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