21 de junho de 2004

O Encontro

Tinham combinado em encontro. Ela tinha-lhe prometido um passeio à beira mar.

Ele chegou com uma pontualidade rigorosamente britânica. Estacionou o carro, mesmo em frente à escadaria que dava acesso ao areal. Olhou em redor procurando-a, definitivamente ela ainda não tinha chegado. Olhou relógio e confirmou a sua pontualidade. Descalçou os ténis, que deixou estacionados no carro. Saiu descalço e dirigiu-se à praia. Parou no topo da escadaria e olhou o mar com visível ansiedade. Desceu os poucos degraus que o separavam do ansiado passeio e sentou-se no último degrau, enterrou os pés na areia procurando alguma segurança.

Impaciente, olhou novamente o relógio e pensou que ela deveria estar a chegar. Ali permaneceu a olhar o mar. Algumas gaivotas aproveitavam a solidão da praia naquele dia de final de verão para passear no areal, outrora repleto de gente. Era Setembro, a praia perdera o brilho do pico do verão, em que centenas de pessoas se amontoam num stress diabólico à procura de um cantinho para estender uma toalha e aliviar o stress do dia-a-dia.

A praia era agora portadora de um brilho diferente, a calma, o silêncio, o deambular das gaivotas, tudo aquilo o remetia para um mundo imaginário, parecia um sonho. Mais um piscar de olhos ao relógio e verificou que ela estava atrasada. A mão procurou no bolso dos jeans o telemóvel. Com ele na mão confirmou que não havia mensagens, nem tão pouco chamadas perdidas. Introduziu um número, mas antes de pressionar a tecla final, aquela que os colocaria em comunhão, desistiu. Enterrou-o no fundo do bolso, lançou as mãos ao fundo das calças onde fez duas dobras em cada perna. Ergueu-se e caminhou em direcção ao mar. Sentiu primeiro a sensação da areia húmida sobre os pés, deu mais uns passos e deixou a água acariciar-lhe os pés. Estava fria, mas ele parecia nem notar, estava muito longe.

Decidiu começar o prometido passeio sozinho, acompanhado somente pela dor de estar só. Olhou para norte, depois para sul, procurando um sinal do rumo a seguir. O Farol no cimo da falésia, a sul, foi decisivo na sua decisão.

Caminhou lentamente enterrando os pés na areia molhada. Atrás de si as ondas, teimavam em apagar os sinais da sua caminhada solitária. Os seus olhos saltitavam entre a imagem do farol, que imponentemente parecia desafiar o oceano e a beleza daquele mar salpicado aqui e além de branco. Enquanto caminhava procurava não pensar em nada, mas era difícil, aquela dor de estar só não o queria abandonar.

Foi então que atrás de si uma voz disse:

- Não me esperaste?

Ele voltou-se, ali estava ela, vestia uma blusa branca como a espuma do mar e uma saia curta, azul, na mão os sapatos. Ele olhou os seus olhos transparentes e respondeu:

- Acho que toda a minha vida te esperei!


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