25 de junho de 2004

A Resposta

A noite tinha-se instalado. Olhou pela janela do quarto de hotel. Ao fundo, iluminado pela luz do farol, estava o mar, inacreditavelmente calmo. Devia vestir-se e ir jantar, mas o laptop aberto sobre a mesa prendia-o aquele quarto, faltava-lhe aquele e-mail que esperara todo o dia.

Finalmente decidiu que tinha de sair. Abriu o roupeiro e escolheu umas calças desportivas, claras, um pólo escuro e sobre os ombros ajustou uma camisola de algodão azul. Enfiou os pés nos sapatos vela e olhou o espelho com um ar desencantado. A sua expressão não conseguiu disfarçar o seu cansaço. Espreitou uma última vez o laptop, que encerrou com um murmúrio de desilusão. Fechou a porta sem olhar para trás, como quem deseja partir com o mínimo sofrimento possível. Dirigiu-se ao elevador. No corredor cruzou-se com umas estrangeiras que o olharam e disseram algo que não conseguiu perceber e depois riram. Noutro momento teria sorrido, mas naquele dia só pensava na resposta que ansiava e que não chegara.

Solicitou delicadamente ao elevador que o levasse ao piso do restaurante do hotel. Mas este caprichosamente decidiu não lhe fazer a vontade e foi parar na recepção. Quando a porta abriu, saiu, sem saber bem porquê, dirigiu-se à porta e foi acordar a deambular pela marginal com as mãos nos bolsos, tentando pontapear todas a pedras da calçada que levantavam a cabeça.

Sentiu fome, e lembrou-se que ia jantar. Escolheu um restaurante com vista para o mar. Pediu para se sentar numa mesa em frente à janela, mas infelizmente estavam todas ocupadas. Sentou-se no bar, enquanto aguardava pela mesa. Tinha de ser aquela, qualquer outra não lhe servia.

Finalmente a mesa ficou livre e pode por fim repousar. Sentou-se deixando a janela e o mar à sua esquerda. Pediu a ementa e escolheu um prato de bacalhau. Enquanto aguardava, olhou a praia, onde um grupo de jovens parecia preparar uma festa. O empregado aproximou-se e pediu-lhe um fino. Apetecia-lhe saborear algo amargo, talvez desse modo conseguisse apagar sensação amarga que o invadia.

Algum tempo depois, chegava finalmente o jantar. Reparou então que tinha pedido bacalhau com natas, "- logo com natas! Lá vai a minha dieta", pensou. Momentos depois o solícito empregado aproxima-se novamente, trazendo na mão um prato e um conjunto de talheres que coloca à sua frente.

Visivelmente surpreso, consegue ainda articular umas palavras ao empregado:
- Desculpe..., mas não espero ninguém para jantar.

Calmamente o empregado continua a ajeitar os talheres e os copos em volta do prato. Por fim olha para ele e apontando para a porta, reponde:

-A resposta que o senhor aguardou todo o dia acabou de chegar.

Era a sua resposta, que com um grande sorriso a iluminar-lhe o rosto correu para ele abraçando-o.


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