30 de julho de 2004

A Despedida

 Nesse momento o visitante estendeu a mão a Francisco, dizendo:

- Caro Francisco, agora tenho de ir, mas não se preocupe que o assunto vai ficar resolvido a contento do Faroleiro e do povo da vila.

Dizendo isto, levantou-se e saiu. Nesse momento entra a bela esposa de Francisco, que de longe observava a conversa entre os dois intrigada.

- Francisco, quem é aquele senhor?

- Querida, para te dizer a verdade não sei. Está aqui na vila de férias e sei que se interessa pelo caso do nosso Faroleiro. Tropecei com ele na entrada dos correios, quando ele ia enviar várias cartas para o Ministério. Agora disponibilizou-se para nos ajudar na nossa luta e sinto pela sua confiança que é capaz de inverter o sentido desta triste história.

- Sabes Francisco, a cara dele não me é estranha e não é daqui, da vila, que o conheço, tenho a certeza, mas não consigo atribuir-lhe um espaço ou tempo...

- Pois querida, essa sensação também eu tenho, mas tal como tu não consigo saber de onde o conheço.

- Então agora só te resta esperar que o milagre aconteça.

Dizendo isto ela deslizou a sua mão pela face de Francisco, que retribuiu a doçura daquele gesto com um beijo carinhoso na palma da sua mão.

Os dias seguintes foram de uma calma mortal. A vida continuava apenas a intervalos regulares quando a noite se abatia sobre a vila e o Faroleiro abandonava o farol para se ir encontrar com a sua sereia.

Ela sentindo que o momento da separação se aproximava, agarrava o seu faroleiro com mais força a cada encontro e sentia a sua dor em cada abraço e beijo.

Uma noite ela confessou ter pedido para deixar o mar e ir viver para terra, queria acompanha-lo para a cidade. Segundo lhe tinham dito, não seria a primeira sereia a abandonar o mar, já muitos anos antes acontecera algo semelhante.

O Faroleiro olhando para ela com o mar a escorrer-lhe dos olhos, disse-lhe que aquela era a maior prova de amor que ela lhe poderia dar, mas que ele não podia aceitar, pois sabia que no coração dela o amor ao mar, à liberdade de nadar entre corais, procurar tesouros em navios afundados, plantar bonitos jardins de algas, acender luzinhas nos corações de marinheiros perdidos, seria um ferida muda mas nunca sarada.

Então num arrebato de coragem disse-lhe:

- Minha querida, o mar és tu e tu és o mar e isso não se pode desfazer. O meu amor por ti é imenso como este oceano que agora nos banha, tal como o desejo de ter sempre a meu lado. Depois da prova de amor que me deste só posso dar-te uma maior, pois se é necessário muito amor para querer aprisionar para sempre alguém ao pé de nós, muito mais amor é necessário para libertar essa pessoa se sentirmos que assim ela nunca poderá ser realmente feliz, porque algum espinho permanecerá sempre cravado no seu coração.

Ela deixou escapar pelos olhos transparentes algum do mar que lhe inundava a alma.

Tinha compreendido a bonita luzinha de amor e abnegação que nas suas palavras brilhava.


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