A Segunda Visita
Naquela segunda-feira, o resto do dia foi banal na vila. O único movimento estranho registado foi uma corrida anormal para o posto de correio, nessa tarde, para o envio de cartas para o Ministério.
Desconhecendo os resultados da reunião, o Faroleiro continuava as suas tarefas no farol, olhando frequentemente o céu e o relógio na esperança da chegada da noite para ir ao encontro da sua Sereia, que aconteceu segundo o previsto.
Na manhã de terça-feira, estava entregue ao cuidado do seu jardim, quando viu um carro de luxo, grande e preto, aproximar-se da entrada do farol. Pensou que seria alguém do Ministério, mas depois verificou que não podia ser, pois o carro tinha um único ocupante e os senhores do Ministério nunca viriam sem motorista.
Dele desceu o misterioso senhor que no dia anterior Francisco tinha visto na igreja a tomar notas num caderninho. Vestia uma roupa em tudo semelhante à que usara no dia anterior na reunião da igreja, só a cor era diferente, hoje era azul, a combinar com uns sapatos vela da mesma cor.
Aproximou-se do Faroleiro e começou o diálogo entre ambos:
- Bom-dia.
- Bom-dia.
- Sabe, costumo passar as minhas férias aqui na vila, mas nunca vim até aqui a cima. Hoje apeteceu-me ver a vista de aqui. Acha que posso?
- A vista é livre - respondeu o faroleiro, não querendo adiantar a conversa. Aquela visita era estranha e logo agora com a história da Sereia...
- Bem isto tem uma vista impressionante. Sabe quando olho este mar, até se me enche o coração.
- Pois, sobre algumas pessoas tem esse efeito, é necessário é ter sensibilidade para poder apreciar.
Será que podia visitar o farol.
- Pode, tem é de preencher um papel, sabe como é, burocracias...
O visitante preencheu o formulário e lá partiram escada acima em direcção ao varandim. A conversa entre ambos animou, afinal tinham mais em comum do que à primeira vista parecia.
Aproximava-se a hora de almoço e o visitante disse que teria que ir, esperavam-no para almoçar. Saiu em direcção ao carro depois de trocar cumprimentos com o faroleiro.
Já no interior do carro, puxou uma elegante pasta de cabedal que repousava sobre o banco ao seu lado. Do seu interior retirou um bloco de notas, também forrado a pele a fazer conjunto com a pasta.
Abriu o bloco e com uma caneta de aparo anotou algo utilizando uns rabiscos semelhantes aos utilizados por psicólogos e psiquiatras.
No fim, uma frase que sublinhou duplamente:
"Insanidade? Negativo."
Rodou a chave e partiu acenando ao Faroleiro.
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