26 de julho de 2004

Novo Encontro

No caminho de volta ao farol, Francisco contou-lhe sobre a reunião com a população da vila, mas preferiu não antecipar mais nada, também não sabia muito bem o que aconteceria em seguida.

Chegados ao farol, Francisco despediu-se e partiu em direcção à vila, deixando o faroleiro a tratar do seu jardim e a sonhar com o próximo encontro com a sua sereia que iria ter lugar já nessa noite.

Já na vila, foi imediatamente interpelado por alguns pescadores, que sentados no muro da marginal comentavam as histórias da terra.

- Ora viva, se não é nosso Presidente da Junta, o homem que já sonha com sereias, como o nosso faroleiro. Ó Francisco diga-nos, acredita mesmo na história do faroleiro a ponto de convocar toda a povoação para uma reunião?

- Ora viva! Os senhores que são homens do mar vêm perguntar-me, logo a mim, um peixe da terra, se acredito em histórias de sereias?

- Olhe lá, nos juntos já temos mais anos de mar, do que você a sua digníssima esposa e os seus queridos filhos vão ter de vida e nunca vimos uma sereia, como quer que acreditemos?

- Isso lembra-me uma conversa que tive ontem com o nosso secretário, o Júlio e para vós não a vou repetir. Mas já que insistem, aqui vós deixo uma questão. Quando me pediram para interceder junto da Capitania por causa da intervenção naquele fundão que diziam existir na zona da costa por onde os barcos se faziam ao mar, porque diziam que gerava correntes fortes e remoinhos, eu não acreditei em vós?

- Sim, foi verdade! - responderam em uníssono.

- Alguma vez um vi aquele fundão?

- Não, nem nós vimos! Mas sentíamo-lo cada vez que os barcos se faziam ao mar.

- Pois meus amigos, eu também não vi a Sereia do nosso amigo Faroleiro, na verdade ele até mais amigo daqueles como vós que se aventuram no mar. Mas isso, não interessa. O que vos queria dizer é embora não tenha visto a sereia, como não vi o vosso fundão, vi algo que me fez sentir que ela existe, tal como vós sentis o vosso fundão, por isso, compreendeis que não possa duvidar nem por um momento.

Despedindo-se partiu em direcção a hotel, mas voltando-se para trás, ainda lhe deixou mais um pensamento,

- Já agora? conto com o vosso apoio na reunião, pois se não posso contar com as pessoas que acreditam no que apenas se sente, para aquela reunião, vai ser muito difícil.
Os pescadores ficaram ali a olhar uns para os outros, até que um dos mais idosos, disse,

- O homem tem razão, temos que o ajudar, logo nós que temos de acreditar com mais força que ninguém cada vez que saímos para o mar naquelas cascas de ovo.

Todos anuíram com a cabeça e continuaram à conversa, mas nenhum deles seria o mesmo depois daquela conversa.

A noite chegara e o faroleiro saiu ao encontro da sua sereia. A noite estava calma e húmida. Ao
longe ouvia-se a música de uma festa que uns jovens tinham organizado na praia, junto à marginal. Uma fogueira iluminava-lhes a noite, juntamente com a lua cheia.

Chegou ao recanto da praia recatado que a sua Sereia lhe tinha indicado e antes que pudesse sentar-se, ela emerge das águas. Correu para ela e ajudou-a a sentar no areal.

- Pensava que tinhas partido para sempre, que já não gostavas de mim, ou tinhas perdido a esperança. ? Disse ele.

- Nem penses nisso, sou muito teimosa, quando quero algo, não costumo desistir e não quero desistir de ti, nem do nosso amor.

- Ainda bem, assim fico mais descansado! Mas que te aconteceu ontem, não viste o meu sinal?

- Vi! Vi até duas vezes. Mas as marés vivas impediram-se de entrar na baía. Apenas pela manhã com a baixa-mar consegui chegar ao areal para te deixar a mensagem.

- Já pensaste como vai ser o nosso futuro? - perguntou ele.

- Não, não pensei, nem quero pensar, quero apenas aproveitar os momentos lindos que passo contigo e este amor que me enche a alma de felicidade e me dá força para continuar a viver na imensidão do mar. Tu fazes-me bem! E eu adoro-te.

- Eu também te adoro, minha Sereia! - disse ele, com uma lágrima pendurada no canto olho.

Ali ficaram a trocar carinhos e palavras doces até que a noite, mais uma vez, os avisou tinha chegado a hora de partir.

Ele beijou-a devagar e delicadamente, depois abraçaram-se. A intensidade daquele doce abraço fez nascer no horizonte a primeira luz. Ela desapareceu no mar e ele voltou feliz, mas já cheio de saudades para a vida de solidão no farol, mas agora sentia que não estava sozinho, a sua Sereia acompanhava-o onde quer que fosse.

Ela era a luz que lhe iluminava o caminho nos momentos mais escuros da sua caminhada pela vida.


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