Manhã Única
Era uma luminosa manhã de Inverno. O sol brilhava constipado num céu azul. O mar estava agitado. Semi-deitado numa cadeira da varanda do quarto, coberto com uma manta com um xadrez multicolor onde predominavam os tons de castanho, observava o vai-vem das ondas. A sua paixão pelo mar tinham-no incitado a comprar aquele refúgio, um porto de abrigo dos problemas diários.
A escolha tinha sido difícil, mas tinha conseguido a vista perfeita. Aquele era um local sagrado, onde a serenidade o invadia e sentia-se acariciado no seu íntimo, carícias que lhe davam alento e lhe curavam as feridas de uma vida profissional tantas vezes cruel e insensivelmente exigente.
Inspirou profundamente e por vária vezes o ar fresco daquela manhã, como quem procura a purificação do corpo e da alma.
Sentiu-se afagado por um abraço. Atrás de si ela tinha colocado os seus braços em volta do seu pescoço. Após uns instantes de silêncio perguntou:
- Não achas que é um pouco cedo para estares aqui fora?
Puxou-a para a frente e sentou-a ao seu colo, enquanto ela mantinha com firmeza o abraço. Deitou-a lateralmente sobre si, apoiando a sua cabeça sobre o seu ombro e cobriu-a com a manta.
Olhou para ela, estava linda, apesar do seu ar algo descomposto e do olhar sonolento, típico de quem acaba de acordar. O macio roupão azul evidenciava a transparência do seu olhar e aquele enorme sorriso rivalizava em luminosidade com o brilho de um sol muito distante naqueles meses de Inverno. Então calmamente disse-lhe,
- Tens razão, está frio. Mas este momento nunca mais se repetirá, este amanhecer será diferente de todos os outros amanheceres, passados e futuros, e não quero por nada perde-lo.
Ela inclinou ligeiramente a cabeça para ele. Aproximou os seu lábios do seu ouvido e murmurou:
- Eu também não o quero perder. Beija-me devagar!
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