10 de junho de 2005

A Declaração

Silenciosamente deixou que a luz se extinguisse. Sem uma palavra, um murmuro, o mais inaudível som, assim terminava mais um ciclo de luz. Era a noite fria da solidão que pintava de negro uma existência em luz.

Queria resistir, agarrar com força aquela estrela polar que não mais marcava o rumo, o norte, a direcção a casa. Mas no fundo sentia que não seria capaz, por mais que se esforçasse, a suas cordas vocais estavam paralisadas, presas no medo de um futuro tão incerto quanto atraente e desejado.

Fez um último esforço enquanto estendia a mão aberta com a palma virada em direcção céu. Abriu os lábios e tentou mais uma vez dizer-lhe as palavras que talvez, … sim, apenas talvez a fizessem voltar atrás, aos seus braços. Foi então que, para sua surpresa, o seu coração falou mais alto e da sua boca brotaram as palavras que à tanto ela ansiava por ouvir:

- AMO-TE! - Volta porque te AMO!

Mas fora tarde de mais, a distância que agora separava o bólido vermelho que ela conduzia pela avenida ladeada pela praia a um lado e o som do mar que abraçava o dourado areal abafaram o, só por si débil, murmúrio daquela declaração de amor.

Esperança, esperança era agora a réstia de luz que ficava implantada na retina do seu olhar, salgada, salgada como a água do mar.


0 Comentários:

Enviar um comentário

<< Home

]]>