28 de março de 2005

Viagem em Direcção à Luz

A luz que entrava pela vidraça molhada humedecia o ambiente seco da sala. Na lareira crepitava o fogo que, lentamente, reduzia a pó aquilo que outrora pó fora. Refastelado numa grande e confortável poltrona lia um romance de uma autora desconhecida, pelo menos até aquele momento.

Era uma tarde de Domingo, de início de primavera. O vento ainda frio associava por entre as folhas que timidamente despertavam para mais um ciclo de vida. O sol, sempre que o céu nublado lhe o permitia, esticava os braços e abraçava calorosamente aquele rebentos de vida.

Tinha levantado os olhos do livro e o pensamento repleto de sonhos voava muito para além daquela sala, daquele tempo ou espaço. Deixando a matéria presa à poltrona, subjugada à força avassaladora da imaginação, ainda teve tempo de pousar o livro sobre as pernas antes de partir.

Percorrendo a uma velocidade vertiginosa um labirinto de pensamentos que o conduziam a becos sem saída, corria de um lado para o outro animado por uma energia inesgotável. Caminhos e caminhos que não pareciam levar a lado nenhum.

Por fim pareceu-lhe avistar, no final de um carreiro de pensamentos cobertos por uma espessa neblina, uma luzinha ténue. Esfregou os olhos e voltou a olhar, mas a luzinha tinha desaparecido. Sem pensar seguiu na direcção onde tinha avistado o espectro da luz, talvez fosse apenas uma miragem, mas sentia que mais valia seguir uma miragem do que ficar parado à espera que as vagas de um mar tempestuoso o arrastassem para outro beco sem saída.

De repente a luzinha surgiu novamente na linha do horizonte, mas foram apensa uns instantes, uns breves momentos, nos quais a escuridão que o envolvia foi, simplesmente, menos escura. De volta à escuridão, começou a correr mais rapidamente. Tropeçava a cada passo, mas nada o parava, a vontade de abraçar aquela luzinha, de sentir o seu calor doce inebriava-lhe o pensamento como uma potente droga.

Por instantes pareceu-lhe sentir a doçura quente daquela luzinha tocar-lhe os lábios.

Estaria a sonhar?

Afinal ela apenas permanecera visível por uns instantes, tal como a Luz de um Farol aparecia e desaparecia, deixando apenas uma rasto e uma promessa de amparo na viagem até um porto seguro.

Abriu lentamente os olhos, sentido um forte e brando calor húmido percorrer-lhe todo o corpo partindo dos seus lábios. Nesse momento, olhando a luz que partia dos seus carinhosos e transparentes olhos verdes percebeu que a sua viagem tinha chegado ao destino...

... a um Porto Seguro.

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