28 de agosto de 2007

Refúgio de Amor

A lua nova estava opulenta, irradiando um brilho que ofuscava a claridade da noite. Parado na soleira da porta, admirava aquele céu incrivelmente brilhante despido de estrelas. Apenas uma ou duas estrelas mais teimosas, lutavam por um lugar no olhar, todas as outras tinham sido ofuscadas pela beleza da lua.

A beleza daquela luz contrastava com a escuridão que reinava no seu interior. Bem, na verdade nem sabia se era escuridão. Aquele era um daqueles dias em que sentia que nem sabia como se sentia.

Que confusão! Até as palavras reflectiam a profunda desordem que reinava no seu interior. Inspirou fundo tentando aspirar toda a luz daquela noite, podia ser que ela o ajudasse a iluminar os seus sentimentos. Inclinou o tronco para a frente em claro desequilíbrio, prontamente corrigido pelas pernas, dando início à marcha.

Não tinha propriamente um destino, ou uma rota, mês tinha esperança que aquela caminhada servisse para colocar alguma ordem nos pensamentos e racionalizar o que sentia.

Na verdade era estranho, mesmo muito estranho pois sentia-se vazio, mas ao mesmo tempo estava completamente preenchido, cheio com um vácuo imensamente grande, também ele cheio de um vazio pleno, mas que, ao mesmo tempo servia para encher.

Como era possível, o vazio encher algo?

Ali estava uma boa questão filosófica.

Por momentos parou, parece que toda a sua energia tinha sido consumida instantaneamente. Era só o que estava necessitar. Já se sentia o suficientemente mal, para ainda ter de estar á procura de respostas a questões filosóficas, pensou. Mas talvez... se encontrasse a respostas aquela pergunta, talvez conseguisse compreender melhor o que sentia. Mas eram muito talvez, mas conseguir algo de concreto.

Na verdade sentia-se desprotegido, era isso, sentia-me como uma criança que se perdeu dos pais na colossal festa de verão. Centenas de caras passavam por ela, riam, gritavam, falavam, olhavam para ela a chorar, mas nenhuma lhe estendia a mão.

Sentia que necessitava de um abrigo, urgente! Não um abrigo com paredes e telhado, com portas e janelas. Não, definitivamente não era esse o abrigo que necessitava. O seu abrigo era diferente. O que lhe fazia realmente falta era um porto de abrigo, um refúgio sem limites, sem grades reais ou virtuais.

Sentou-se num pequeno banco, típico mobiliário urbano, como lhe chamam agora. Aquele banco poderia bem ser o seu refúgio, o seu porto de abrigo. Afinal não tinha limites, paredes ou telhado que o oprimissem.

O que muito simplesmente necessitava eram dois braços que o aconchegassem e duas mãos meigas que o acariciassem, e uma voz meiga, suave e encantada de uma sereia, que ao ouvido lhe cantasse uma bela melodia e lhe dissesse: Je T’adore.

Essa era o refúgio que mais desejava. O único que verdadeiramente o poderia proteger das tormentas que assolavam a agreste costa da sus existência. O murmurar do mar ao enrolar na areia dizendo: My Dear, Sweetie, Meu doce pecado, ai como a desejava ali.

Meteu a mão no bolso e apanhou o telemóvel. Sem pensar mais procurou na agenda o número dela para lhe ligar. Ligou e ficou a aguardar. Atrás de si um telemóvel tocou. Virou-se instintivamente, pois imaginou que … Apenas algumas pessoas que caminhavam ao longo da avenida e que por coincidência o telemóvel de uma tocou no instante em que passavam naquele ao banco.

Claro que não podia ser. O dela também tocaria, mas seguramente bem longe dali, tão longe que seria possível ouvi-lo. Desligou a chamada sem sequer tentar ver se ela tinha atendido. Voltou à posição inicial. Guardou o telemóvel no bolso e debruçando-se, resguardou a cabeça entre as mãos.

Era o único refúgio possível!

Começou então a sonhar, fantasiava com duas mãos que, por trás o abraçavam naquele momento, os lábios encostados ao seu ouvido murmuravam Adoro-te, e depois o beijavam. Era uma fantasia bela e tão desejada que quase lhe parecia real. Sentiu os braços, as mãos e até conseguiu ouvir a voz.

- Estavas a pensar em mim? -Mais uma vez em harmonia, não é?

Aquela voz, o calor da sua respiração, o trovejar suave, os micro-relâmpagos que provocava a pele dela encostada na dele e que lhe eriçava os sentidos era demasiado real para ser fruto da sua imaginação.

Virando-se lentamente, olhou-a profundamente nos olhos, acariciou-lhe o cabelo, o rosto, atravessou os lábios lentamente e beijo-a por fim disse-lhe:

- Contigo sinto-me seguro.

Ela era o seu refúgio, o seu porto de abrigo.


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