26 de novembro de 2008

Memórias do futuro

Insistentemente volto a este a Farol, genuíno Porto de Abrigo, ancoradouro de tantas alegrias, de imensas tristezas, de intensas emoções e ardentes paixões. As vividas e aquelas que ansiamos ainda por viver.

Uma espécie de retrospectiva de um futuro ainda não desenhado pelos caprichos da vida, mas suficientemente projectado em momentos presentes, embora às vezes…

Tinha projectado virar à esquerda naquele cruzamento. Tão simples rodar o volante para esquerda, mas não, não poderia ser assim tão simples. A saudade do futuro apossou-se misticamente do volante e lá foi ele para a direita.

O destino estava traçado, não havia volta atrás. Sabia que o velho, enorme e pesado portão estaria aberto, como aliás sempre está.

Um oportuno lugar livre para estacionar parecia encaixar na perfeição nos planos não traçados. Apenas o invulgar frio convidava a partir rumo a paragens mais quentes e acolhedoras fisicamente, e gélidas emocionalmente.

Sem pensar demasiado atravessou o portentoso portão, imergindo num misto de passado e futuro, onde as emoções de ontem se misturavam com os desejos de um amanhã, onde o ar gélido do final de tarde de Outono lutava para arrefecer os desejos de uma paixão vazia de corpos, onde apenas as memórias ardiam com labaredas multicolor em tons dourado e perfume a baunilha.

A cada passo uma saudade que se quebrava ruidosamente. Um pedaço de futuro que ficava cativo no passado. Parou, olhou em volta como receio que fosse notado. Mas estava definitivamente só.

Apenas ele e a recordação de outro tempo, de outras cores, de outras sensações.

Inspirou profundamente o ar frio que, por instantes conseguiu entorpecer os pensamentos. Entre as suas mãos onde, em outros momentos palpitara uma pele doce e quente, agora apenas estava um tecido sem vida, sem alma, sem paixão.

Por momentos enternecera-se, sonhara, mas estava na hora de voltar ao passado, que o futuro, esse, já era…

Saiu pelo mesmo caminho, voltou ao cruzamento e virou à esquerda...

...estava de novo na rota prevista pelo futuro, um caminho expiado ao passado.

"...As memórias são
Como livros escondidos no pó
As lembranças são
Os sorrisos que queremos rever, devagar..."



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