28 de agosto de 2007

Apenas Mais Um Dia... Banal

Parecia que se tinha tornado um vício escrever-lhe à noite. E lá estaria ela, mais uma vez, no dia seguinte (ou no mesmo dia, apenas umas horas mais tarde) ao chegar ao seu local de trabalho e ao ligar o computador lá estaria mais uma luzinha, um raio de sol, ou talvez nada disso, talvez mais uma lágrima, um grito de dor, daqueles que se espetam sem anestesia profundamente na alma, ou simplesmente uma simples nuvem negra a ameaçar borrasca, para ensombrar o começo de um novo dia.

Na verdade não sabia bem como olhava ela estas mensagens, tinha sempre muitas dúvidas antes de as enviar, mas relendo o seu mail de ontem, um que começava com “Vou ser breve, porque quero e tenho que ser breve…”, que mais lhe podia dizer, que mais lhe podia dizer com palavras que ela não tivesse já compreendido pelos actos?

Voltando o pensamento para a sua última mensagem, cada vez que a lia vários pensamentos dominam a sua mente, é claro que não lhe ia contar nenhum, não acreditasse que lhe fizesse bem ouvir alguns.

Depois de pensar um pouco, concordou com ela, pois deixar a vida ao acaso era perigoso, muito perigoso, talvez tanto ou mais perigoso do que o tinham (ou não tinham) presentemente. Apesar de tudo hoje portara-se bem e resistira a enviar-lhe um único sms durante o dia e nem mesmo à noite tinha capitulado ao desejo, à tentação. A vontade era muita, mas não o fizera. No fim sentia falta das suas palavras, ainda que fosse apenas na ponta dos dedos. Sentia a falta da razão que lhe dizia que “como não queremos, pronto, acabou.”, numa voz arrastada, em que cada palavra brota do canto do olho esborratada por uma enorme vontade de gritar algo bem diferente. Lembrava até um sorriso, um sorriso singelo, bonito mas que tivera a capacidade de o gelar por completo.

Partir ou ficar, que dói mais? Ainda não conseguira compreender. Com a mente pejada de imagens elas, dos escassos momentos em que estiveram a sós, contudo infelizmente nunca puramente sozinhos. Lembrar como a apertara …, lembrar, lembrar, lembrar, apenas lembrar um nada que mesmo assim teimava em ser tudo, um vazio repleto de pequenos nadas que preenchem um espaço infinito.

Não sabia o dia de amanhã, não o queria saber, e se alguém soubesse, o melhor mesmo é pegar na borracha, porque iria ter que apagar e corrigir muitas vezes, não lhe iria facilitar a vida, nunca o fizera e não era agora que o iria fazer.

O dia começara nos correios. Tinha o nº 745 e a última pessoa que o placard eletrónico libertara da prisão da espera tinha sido o 482, por isso decidiu deambular pelos expositores olhando os livros. É então que um livro sobre os signos em banda desenhada lhe despertou a atenção. Não era o seu estilo preferido, mas não pudera deixar de ler o que dizia do seu signo que também era o dela. Grande surpresa! Descobriu que não era nada do que lá estava,… bem nada, nada, também não era assim completamente . É claro que o pensamento voou para o pé dela e para as primeiros mensagens que trocaram há..., há tanto tempo.

Bolas, mas como conseguia e porque motivo ela se infiltrava nas coisas mais simples para que pensasse nela? Até um simples pacote de açúcar lhe lembrava a gargalhada do adoçante. Qual é o seu segredo, será que ela lhe conseguia ensinar… assim podia ser que conseguisse um antídoto para este veneno que lhe adoçava os dias.

Não iria escrever mais, hoje não, amanhã talvez, mas também não dava certezas, não queria que nenhum “master plan” tomasse conta de uma vida que era só dela e a mais nenhuma divindade pertencia. Ficavam por ali as palavras cansadas de hoje, afinal mais palavras para quê, quando as palavras calam as emoções que os sentimentos bradam,… mais palavras para quê.

Não sei se ela conseguiria chegar até ali, ou se apenas leria o primeiro parágrafo e como lhe tinha aconselhado, reciclara prematuramente os bits e os bytes daquela mensagem, para que outros sentimentos se propaguem pelos caminhos, nem sempre rectos, deste universo imperfeito, e no qual os sentimentos mergulham e se afogam num oceano de regras, normas, princípios, costumes, tradições, num oceano em que a fronteira entre o certo e o errado é aquela fina linha no horizonte que separa o mar do céu, e que nunca ninguém foi capaz de apagar.

Mas para o caso de chegar até aqui, então ficaria a saber que estava com ela apesar de…do oceano que os separava.

E assim terminava mais um dia, um dia simples, banal e sem emoções...

...um dia triste sem Amor.



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