14 de agosto de 2004

Despertar Triste

Já o pressentia, senti-o nos teus sorrisos, nas tuas palavras, nas tuas ausências, talvez por isso se diga que o pior cego é aquele que não quer ver e eu não queria, mas não sou cego, por isso te escrevi aquela carta, porque senti que te estava a perder.

Era inevitável, apesar de insistentemente procurar resolver equações impossíveis, ambos sabíamos que o eram. Mas nunca desisti de procurar novas abordagens, novas transformações e substituições, porque no fundo nunca deixei de acreditar, de ter esperança, não queria, não podia deixar de acreditar. Como poderia abandonar um sonho, um sonho belo, apesar de todas as incógnitas, todas as incertezas e todos os problemas, isso seria render-me antes de derramar a última gota de sangue.

Como te disse foste a coisa mais maravilhosa e mais terrível que me aconteceu, tu compreendes... Foram gavetas que se abriram, o reaprender a sonhar, a recordar locais, momentos, situações e emoções. E este gosto pela escrita, por sentir-me preenchido, por apreciar a beleza aprisionada num simples sorriso ou olhar, por abandonar um vazio que nos mata pela ausência da consciência de quem somos, do que desejamos e sonhamos em silêncio.

Mas compreendo, entendo que era muito duro, demasiado cruel, talvez por isso nunca tenhas sonhado em voz alta. Embora eu tenha desejado por mais de uma vez ouvir-te dizer algo, um sinal claro ou um desejo, mas também isso eu entendo, e aceito. Aceito que o caminho mais difícil não é o mais apetecível e que acumular dor em cima de dor não é vida para ninguém, principalmente para um espírito de luz. É isso que tu és, um espírito de luz, um cometa, que numa passagem fugaz pelo meu planeta, fez doces estragos que vão durar milhares ou mesmo milhões de anos, anos luz.

Nas mãos, agora vazias, conservo quatro cristais.

O primeiro contém a tua recordação e essa é minha e só minha e apenas com a morte me abandonará.

O segundo contém uma promessa, a de uma camisola de lã, cor branco sujo, no meio de um areal e quatro marcas que seguem a par na areia húmida.

No terceiro um cozinhado de sentimentos, emoções, carícias, envolvidas no doce sabor dos teus lábios e da tua pele, que um dia beijei.

No quarto duas esperanças, a de uma amizade verdadeira e duradoura construída em cima da franqueza e cumplicidade que desde o início nos ligou e a de um dia, um dia quem sabe... se... talvez... um dia os livros de juntem na mesma estante.

Agora tenho de fechar várias gavetas abertas especialmente para ti, tu sabes quais, mantenho aberta a dos sonhos, aqueles que alimentam este farol, esperemos que por muito tempo...

Por fim, desejo no fundo do coração que encontres a felicidade, que uma mão doce, meiga e sincera, cheia de nobres e puros sentimentos te afague, tanto quanto o desejo para mim, com a intensidade que conseguimos desejar àqueles que verdadeiramente amamos.

Eu fico aqui, tu sabes onde, por isso, sempre que necessitares aquele ombro amigo, aquela voz, um beijo, uma carícia, eu cá estarei... sem expectativas, sem perguntas, sem mágoas.

GMT


0 Comentários:

Enviar um comentário

<< Home

]]>