O Jornal
A vida continuava na vila e Francisco desesperava um pouco mais a cada dia que passava. Numa sexta-feira, acordou muito cedo e decidiu ir para a junta despachar uns papéis que tinha deixado acumular. Nos dias anteriores não tinha conseguido concentrar-se e os assuntos da Junta ameaçavam já começar a cheirar mal em cima da sua secretária.
Chegou à Junta ainda de madrugada. Entrou por uma porta lateral e foi directo ao seu gabinete, onde começou a despachar os processos pendentes. Depois, pontualmente, chegou Júlio que também andava preocupado com o atraso dos assuntos, pois era ele que todos os dias tinha de dar as más notícias às pessoas que se dirigiam à secretaria.
Ficou satisfeito ao ver Francisco sentado no seu gabinete a despachar. Foi até lá e cumprimentou-o informalmente já que não Havai mais ninguém no edifício.
- Bons olhos te vejam por aqui a despachar. Já estava preocupado contigo, bem... contigo e comigo, que qualquer dia ainda me batiam ali na secretaria por causa dos atrasos.
- Acordei cedo e olha, vim despachar tudo. Que horas são?
- São horas de tomares um café e uma torrada - disse Júlio - Deixa-te estar que vou ali ao café buscar-te algo.
Dizendo isto saiu e dirigiu-se ao café em busca de um pouco de conforto para o seu amigo. Francisco continuava a despachar os papéis quando Júlio lhe entra pelo gabinete esbaforido, gritando:
- Francisco, já viste o semanário de hoje? Agora é que vai ser lindo... Largaram a bomba e logo na primeira página!
- Ó Júlio, claro que não vi o semanário! Entrei para aqui às 05:30, como querias que tivesse visto? Mostra lá!
Nesse momento Júlio desenha uma expressão de vergonha e culpa, enquanto se explica,
- Desculpa, mas com a emoção, nem trouxe o jornal, mas vi o título na primeira página vim imediatamente para aqui e nem me lembrei de o comprar...
- E qual é esse título?
- “Ministro do mar não gosta de sereias” - Disse Júlio.
- Vai depressa Júlio e traz-me um jornal, rápido, rápido. Mexe-te homem!
Júlio volta momentos depois com o jornal na mão. Lá estava em parangonas, o título que Júlio descreveu, juntamente com uma foto do ministro e a representação de uma sereia. Júlio não tinha exagerado, o destaque era brutal. O título e as fotografias ocupavam três quartos da página.
Francisco abriu o jornal e leu a notícia completa. Estava lá a história toda, pormenores da reunião, da vida do Faroleiro, do seu empenhamento, do desaparecimento das cartas no ministério, tudo.
Aquilo intrigou-o. Como poderia o jornalista saber tantos pormenores se ele não tinha dado conta de ninguém a fazer perguntas pela vila? Seria o visitante misterioso, jornalista?
Parou com estes pensamento uns instantes para delinear um estratégia, pois sabia que agora a exposição seria enorme, tinha de articular algumas ideias.
Estava absorto pela delineação da estratégia, quando lhe entra pelo gabinete a sua adorável esposa.
- Francisco, já viste o jornal de hoje?
- Já querida. Agora sinto que o final que desejamos vai por fim chegar...
- E sabes quem é o teu ajudante misterioso?
- Não. E tu, sabes?
- Foi um simples acaso, querido, Hoje pela manhã folheie por acaso uma daquelas revistas que todos os dias adquirimos para a sala de convívio do hotel e encontrei o teu ajudante. Eu sabia que o conhecia...
- E quem é ele?
- Nada mais que o proprietário do jornal onde saiu a noticia.
- Bem isso explica tudo.
- Esta luz no fundo deste mar de desencantos é um milagre! - Disse por fim
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