30 de janeiro de 2006

O Caminho da Felicidade

Pedro acabava de enxugar a última lágrima que alimentava o riacho da sua dor interior, quando João entrou na sala.

- Olá Pedro, como estás? - Disse João estendendo-lhe a mão.

- João! - Disse Pedro num misto de surpresa e embaraço. – Está tudo bem contigo?

- Aparentemente estou melhor que tu… - replicou João.

- Desculpa João?!?! – Exclamou Pedro num tom de admiração.

- Ultimamente não tens andado bem, eu tenho notado.

- Que dizes João! Nunca rimos tanto como nos últimos dias.

- Até pode ser, até pode ser Pedro, mas algo me diz que tu não andas mesmo bem.

- É impressão tua! Disse Pedro articulando o seu melhor sorriso.

- Bem Pedro, agora não posso continuar a conversar contigo, tenho de te deixar, vim apenas apanhar estes papéis. Fica bem amigo e cuida-te, que bem precisas.

Pedro podia até negar, mas na verdade João conhecia-o bem, demasiado bem para se deixar enganar com sorrisos fáceis e umas larachas.

Quando João saiu, Pedro recostou-se na cadeira, descansou a cabeça, deixando-a tombar para trás, assentando pescoço no topo da cadeira, enquanto fixava o olhar no branco, vazio, do tecto.

Então, em passo acelerado iniciou uma corrida para percorrer o caminho da relação que o conduzira até ali. Era um caminho invulgar, comprovou, entre avanços e recuos, entre hesitações e uma forte determinação, entre ameaças e beijos, a sua relação tinha-se fortalecido e a determinada altura, depois de um longo período em que brincaram ao esconde, esconde, tinham finalmente combinado um passeio juntos. A partir daí tinham começado a correr juntos.

Reflectia agora sobre o rumo da sua caminhada juntos, um rumo que os conduziu a um ponto sem nome, algures entre o fim do mundo conhecido e o princípio de um novo desconhecido e enigmático mundo.

Mentalmente foi caminhando e repetindo as escolhas efectuadas em cada cruzamento da sua caminhada, tentando perceber onde tinham perdido (duvidava mesmo que tivessem perdido, ou que alguma vez viessem a perder) a direcção, o Norte.

A sua ligação fora, desde o primeiro instante, o suficientemente forte para resistir a duas gigantescas provas, as mais duras provas que se podem conceber: a prova da separação e da impossibilidade. Agora, sem mais, o caminho que percorriam junto começava a desaparecer a sua frente, as pontes ruíam despedaçando-se ruidosamente.

Tentou avançar várias explicações de si para si, para tão insólito fenómeno, mas nenhuma conseguia lançar um raio de luz suficientemente claro sobre a escuridão que envolvia a separação de duas almas gémeas - como ela dissera num momento – para que de repente perdessem a sua misteriosa e mística ligação, a mesma resistira às mais duras provas que se podem impor aos sentimentos.

A única explicação gerada pela sua mente, que o seu coração aceitava como plausível, era que, em algum momento, tinham cedido à tentação de tentar saber onde aquela caminhada os iria levar. Essa tentativa de compreender o incompreensível, perceber o amanhã quando ainda não se compreende totalmente o hoje, tinha-os colocado a caminhar num estreito e perigoso caminho atravessando uma soberba cordilheira de montanha, ladeado por um precipício pavoroso, onde, a qualquer momento, poderiam cair, a não ser… a não ser que se auxiliassem, se amparassem sem pensarem no que os aguardava do outro lado daquele pretensioso obstáculo.

Ambos sabiam o que procuravam, procuravam a felicidade, só não sabiam se estava do outro lado daquela cordilheira de montanha, mas queriam acreditar que era assim. Na caminhada propriamente dita, tinham descoberto que não estava, pois encontraram dor, sofrimento, cansaço e esgotamento, intervalados por momentos de plena felicidade, mas eram apenas isso, momentos, migalhas de um pão que teimava em alimentar outras fomes.

Pensou estender-lhe a mão, tentando ampara-la, mas tinha-lhe prometido que não o fazia e não o faria. Não por orgulho, mas porque num passo da caminhada ela tinha sido bem clara, aquela caminhada não lhe estava a fazer bem, estava a esgotar-lhe as poucas forças que lhe restavam, as mesmas que necessitava para outra caminhada, uma fuga, e ele prometera-lhe que se afastaria, se isso fosse bom para ela. Assim caminharia junto dela, sem a perder de vista, mas o suficientemente distante para não quebrar a sua promessa, por muito que essa luta esgotasse a fonte da força vital que alimentava a sua esperança de continuar a sentir-se vivo.

À distância ainda teve a tentação de lhe gritar “NÃO PARES, POR FAVOR!”. A ausência de um sinal confirmou o que temia, ela não o ouvira. Restava-lhe apenas a esperança, o desejo secreto, que a mística que os unia mantivesse a força suficiente para que, os dois, juntos, conseguissem atingir o que mais ansiavam…

… serem felizes.

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