Viagem aos Mares da Solidão
O velho marinheiro navegava à bolina. Curiosa aquela dinâmica do vento. O mesmo vento que o empurrava para trás, era o vento que o impelia a avançar. E assim foi mareando por mares desconhecidos, até que, subitamente descobriu uma referência a um porto de abrigo que bem conhecia.
Atracou o barco no delicado cais, com aspecto de ser mais velho que o marinheiro que agora o pisava, mas mantinha a sua essência transitória bem vincada. Parecia estar só. Sozinho num oceano repleto de outros desembarcadouros, também eles dedicados à solidão.
Ai a solidão… era tão fácil falar dela, mas tão poucos a compreendem. Uma rápida olhadela ao casario de palavras pretas estendidas ao sol num pano branco, que emergiam no final do embarcadouro, adocicava o paladar ainda mais o sabor inicial.
É fácil falar de solidão, mas mais difícil é compreende-la. Muitos marinheiros de água doce, autênticos pescadores de linha curta, julgam que solidão é estar simplesmente sozinho (seja lá o que isso significa!). Mas a estes marinheiros, falta-lhes a sabedoria que só a companhia exclusiva de um mar infinito lhes pode dar. Quantos marinheiros sentiram a dor da solidão em terra, abundantemente acompanhados.
Falar de solidão, ai quanto haveria para dizer…
Do alto deste farol, com a sabedoria que apenas a vastidão e o silêncio ruidoso do mar podem dar e com a vista cansada e diminuída pelos longos anos dedicados à árdua tarefa de perscrutar longos oceanos repletos de solidão, julgo ter visto, talvez, a mais cruel de todas as formas vivas de solidão, aquela em que, apesar de acompanhados sentimos que estamos completamente sós, e a que alguns dão, simpaticamente, o nome de incompreensão.
É a crueldade da dor do sentir que todos aqueles que deveriam iluminar a nossa existência com o brilho resplandecente da sua luz, são verdadeiros buracos negros que, aprisionando no seu seio todo e qualquer vestígio de luz apregoam intensamente que são a fonte da luz verdadeiros mananciais de vida.
Compreenderam?