25 de janeiro de 2005

A intensidade da Luz

Há dias escrevi e deixei esta mensagem numa caixinha de comentários de alguém que me lê regularmente.


A luz mais intensa não é aquela que se vê, mas aquela que se sente.


Não me perguntem, talvez seja uma coincidência, mas hoje apeteceu-me partilha-la com vocês.



24 de janeiro de 2005

Escuridão em Branco

Hoje ao abrir o blogger e ao olhar para a folha em branco, veio-me à mente este pequeno trecho de uma canção sobejamente conhecida:

And now, the end is near,
And so I face the final curtain.
My friends, I'll say it clear;

Não sei como o hei-de interpretar. Como uma coincidência ou como um sinal?

O tempo dirá...

Relativamente ao "conto" das coincidências verifiquei com alguma surpresa, devo confessar, que alguns dos meus fiéis e mui prezados leitores, pensam que o conto deve continuar. Para ser sincero não tinha pensado nisso, mas agora que olho com atenção para aquele conto, creio que podia colocar ali mais um raiozinho de luz.

Veremos o que nos reserva a Luz da inspiração, se é que ainda resta alguma...




21 de janeiro de 2005

... ou Talvez Não (VI)

Baixando-se pegou naquela garrafa que colocou sobre o braço. Arrastando o enorme peso da falésia sobre os seus ombros, seguiu em direcção à frágil escada de madeira que, num canto afastado, dava acesso a uma vereda que serpenteava escarpa acima até à base do farol. Junto ao início da escada encontrou um caixote de madeira onde, sem mais, deixou a coincidência que transportava sobre o braço e que marcava a dor da sua ingenuidade, uma inocência alimentada de esperança vã, esperança de um sonho que jamais se tornaria realidade.

Sem olhar para trás subiu até à base farol. Chegado aí sentou-se num muro que rodeava o esguio edifício e ficou a contemplar o mar que, como os seus sonhos, avançava e recuava, avançava e recuava, mas sem nunca conseguir ultrapassar a barreira do areal.

Enquanto permanecia contemplativo, meio anestesiado em relação ao mundo e às desilusões que o atingiam com a força de um tsunami sentiu um tremor no seu bolso. Era o telemóvel, prenúncio de algum terramoto, ou pior, talvez um maremoto. Levou a mão ao bolso, retirou o pequeno aparelho e olhou o visor. 919…… Não conhecia o número. Ficava sempre desconfiado quando não conhecia os números. Resolveu atender.

- Estou sim…

- Estou sim. Desculpe mas tinha uma chamada sua aqui no meu outro telemóvel.

- Desculpe mas deve ser engano eu não a conheço e como tal não lhe poderia ter ligado…

- Claro que ligou, pois apenas me limitei a responder ao número que me tinha ligado hoje pela manhã.

Nesse momento fez-se luz na sua cabeça. Seria ela a Brisa do Luar? A questão que se colocava naquele momento era como lhe perguntar sem fazer figura de parvo.

- Sabe realmente eu liguei para um número esta manhã, mas... foi algo especial … nem sei bem como explicar … sabe encontrei esse número…

- Não diga mais, encontrou a garrafa da Brisa do Luar.

- Foi isso mesmo!

- Sabe que há muito tempo que esperava por este telefonema? Foram já muitas as garrafas que larguei naquela praia na esperança que o acaso fizesse o seu trabalho numa coincidência esperada a desejada. É verdade não foi obra do acaso, foi antes a minha perseverança que não me deixava desistir quando, dia após dia as garrafas desapareciam no mar e o meu telemóvel continuava mudo. Mas nunca deixei de acreditar que as coincidências acontecem, principalmente quando não desistimos de as estimular e hoje parece que fui recompensada.

- Pois... tudo indica que sim. Mas como sabe que eu sou a pessoa a quem se destinava a garrafa e o acaso não colocou a garrafa noutra mão?

Do outro ouviu uma leve gargalhada à qual se seguiu a resposta.

- Porque, por coincidência preparava-me agora mesmo para ir lançar mais uma garrafa ao mar quando o vi sentado junto no muro do farol de telemóvel na mão…

Nesse momento ele virou-se e viu-a surgir por detrás do farol com uma garrafa na mão.

Afinal estava tudo explicado e, por coincidência ou não, sentiu que aquele momento marcava o início de uma relação muito especial.



20 de janeiro de 2005

Apenas Coincidências... (V)

Uns metros à frente parou. Questionou-se:

Que fazia???

Afinal aquela garrafa sobre as ondas do mar não era fruto do acaso, uma coincidência. Era a extensão da vontade de alguém, um grito de socorro que um verdadeiro faroleiro jamais poderia ignorar.

Voltou atrás e esperou pacientemente que o mar liberta-se aquele SOS. Por fim, ainda pouco conformado o mar deixou a seus pés a garrafa. Olhou para ela com atenção e sentiu que a falésia se desmoronava sobre si.

Aquela garrafa estava vazia, não era a mesma garrafa.

Como podia ter sido tão ingénuo a ponto de acreditar poderia ser a mesma garrafa?

Como poderá acreditar que os acontecimentos daquela manhã eram um sinal de luz que o conduziriam a um porto seguro?

Coincidências, apenas isso, acontecimentos fortuitos sem qualquer significado, pedaços de sonhos que nunca passariam de retalhos de uma vida nunca vivida, de lugares nunca visitados, de beijos nunca dados, de sentimentos sentidos, mas nunca exteriorizados…

…apenas coincidências!



18 de janeiro de 2005

O Destino e as Coincidências (IV)

Chegado junto linha de fronteira sentou-se e descalçou-se. A sensação da areia, também ela presa no interior dos ténis tornara-se insuportável. Também ela clamava pela liberdade à sua maneira.

Já descalço, enterrou os pés na areia ainda fria e húmida. A princípio sentiu um leve incómodo, mas rapidamente se transformou, à medida que crescia a comunhão entre o seu corpo e a natureza quente e protectora da paisagem.

Durante muito mais de uma hora percorreu o caminho de volta acompanhado pelo sol morno daquele dia de Inverno. De vez em quando lançava um olhar sobre as ondas do mar e questionava-se sobre o paradeiro da garrafa de tão friamente tinha arremessado para as entranhas do oceano.

Na verdade o seu olhar procurava-a. Sabia que tinha o número no seu telemóvel, até poderia telefonar, mas não era isso que o perturbava, queria mesmo era sentir de novo a mensagem na sua mão. Voltar a ler as suas palavras. Guarda-las no fundo protector do seu coração e embrulhar nelas os seus sentimentos que lhe ofereceria no seu primeiro encontro.

Mais leve depois de ter gritado com o mundo pensava no que faria quando a enormidade da falésia de onde se afirmava o farol estivesse a seus pés. Seria capaz de enfrentar aquele farol com a mesma força com que tinha gritado do alto da duna?

Sentia que sim, estava preparado para tudo. Queria libertar-se daquela jaula de sentimentos que o aprisionavam e vogar num sonho de liberdade e amor. Naqueles momentos em que olhava o mar, aproveitava para acolher a brisa fria e salgada que o mar lhe estendia. Quando aquele ar invadia os seus pulmões sentia a doçura cálida da Brisa do Luar numa noite de verão sob um céu estrelado. Aquele vento imaginário, sereno e delicadamente sensual embriagara a dúvida e dera espaço à certeza e à confiança no sucesso da sua caminhada.

Ao fundo conseguia já vislumbrar o porte altivo do farol. A sua caminhada aproximava-se do final. Mais um olhar sobre a superfície do mar, mais um sorvo de Brisa do Luar e mais uns passos longos e decididos. Sem hesitações, seguia o seu rumo guiado pela Luz do Farol, ainda que apagada naquele momento.

Já mais perto da falésia observou como um objecto flutuava sobre as ondas do mar. Focou o olhar e conseguiu perceber que era uma garrafa. Talvez fosse…

Não, não poderia ser, seria coincidência a mais!

Depois de horas a caminhar voltar a encontrar a mensagem de que nunca se tinha querido separar. Parou e ficou a observar como o mar lentamente, muito lentamente, a empurrava em direcção à areia. Enquanto esperava esboçou um sorriso e pensou como era parvo. Ali parado em frente ao mar à espera. À espera, com a esperança de que aquela fosse a mesma garrafa que ele tinha atirado ao mar horas atrás. Só mesmo ele para alimentar tal sonho.

Sem pensar mais virou costas ao mar e àquela, mais uma, coincidência e seguiu em direcção à falésia, com um pensamento a rolar na sua cabeça:

Estava na hora de agarrar o seu destino com as duas mão e deixar o acaso descansar em paz.



17 de janeiro de 2005

Essência das Coincidências (III)

Liberto do peso daquele achado seguiu em direcção à falésia, sobre a qual se erguia com altivez o farol. Deu dois passos e olhou directamente para ele. Nesse momento parou. Aquela visão de força e segurança assustava-o, colidia com a sensação de cobardia que lhe digeria os pensamentos de forma voraz. Procurando livrar-se daquela sensação, virou as costas ao farol e seguiu na direcção oposta.

Caminhou à beira ma, procurando absorver o calor que aquele sol de Inverno lhe entregava na palma de cada raio. A brisa fria e húmida do mar penetrava-lhe as narinas e faziam-no sentir desperto. A mão no bolso direito rodada incessantemente o telemóvel entre os dedos. Na mão do seu pensamento outras ideias rodavam, também elas sem parar. Curioso aquele nome, Brisa do Luar, poderia ser um tipo de brisa qualquer, mas do luar.

Como seria a Brisa do Luar?

Teria o luar brisa?

Porque escolheria ser a Brisa do Luar, quando o luar não tem brisa?

Procurou no dicionário da sua imaginação o significado da palavra brisa. A brisa representava a face mais meiga do vento, uma aragem fresca que nos envolve e nos dá uma sensação de conforto e prazer.

Seria ela também assim, meiga e fresca?

Teria perdido a oportunidade de sentir o conforto de um abraço meigo e doce?
Não podia deixar que aqueles pensamentos, aquela dúvida cruel lhe invadisse o espírito. Apressou o passo, apetecia-lhe gritar, exteriorizar a raiva que sentia. Apressou mais um pouco o passo, e depois mais um pouco. Sem se dar conta corria agora a grande velocidade. Os ténis enterravam-se na areia com a violência do impacto pelo passo de corrida. A areia fina e incómoda expulsara o ar junto ao pé, mas não tinha conseguido expulsar a incerteza da sua cabeça.

Talvez se fizesse como a avestruz...

Por fim, exausto, começou a abrandar o ritmo. Uma sensação de dor preenchia agora parte da sua cabeça. Afinal, talvez a corrida tivesse surtido algum efeito. Por fim parou e deitou um olhar ao horizonte. À sua frente apenas um areal dourado que se estendia até… até… até onde os olhos conseguiam alcançar. À sua direita pequenas colinas de areia, baptizadas de dunas limitavam a sua visão. À sua esquerda aquele mar imenso que nunca se deixaria atravessar e que na linha do horizonte escondia outros mundos. Na suas costas o farol. Não o via, mas sabia que estava lá, por isso correra, para lhe fugir, como se tal fosse possível...

Nesse momento compreendeu. Compreendeu que estava preso, preso entre um farol a quem virara as costas e um futuro que não conseguia avistar. Pensou como um condenado. A única solução possível era enfrentar o medo e preparar a fuga daquele encarceramento.
Subiu até ao alto de uma duna, encheu os pulmões de ar e gritou, uma, duas, três, muitas vezes. Depois olhou as várias direcções e partiu em direcção ao local de onde tinha partido.

Talvez fosse apenas mais uma coincidência, voltar ao local onde tinha começado aquela aventura, mas que interessava isso, afinal as coincidências são apenas combinações de espaço e tempo que nos tocam de maneira especial.


13 de janeiro de 2005

Mais Coincidências (II)

Na verdade não acreditava mesmo em coincidências, seria uma coincidência? Riu daquela pobre chalaça enquanto a vontade de ligar aquele número crescia ao sabor do calor daquela luz intensa que o tinha atingido.

Lentamente introduziu a mão no bolso direito do casaco de onde tirou um telemóvel. Deixou o olhar navegar sobre a superfície o mar e durante aqueles momentos de alheamento foi rodando o telemóvel na palma da sua mão.

Uma dúvida pairava sobre a sua cabeça como uma nuvem: deveria telefonar?

Que mais poderia fazer. Segurava na mão uma luzinha que apenas poderia provir de uma bela estrela, pura e cintilante. Não queria pensar mais, pois sabia que a sua racionalidade nunca poderia compreender o que estava a acontecer.

Lenta mas decididamente foi marcando os números, 9...6..2... no final a derradeira tecla verde e a espera. Do outro lado o inconfundível sinal de chamar, piiiiiiiiii,... piiiiiiiii...

De repente o espectro sombrio do medo do desconhecido assaltou-o e premiu a tecla vermelha. Ainda perplexo com a sua acção deixou-se cair vencido no areal. Não queria acreditar que tinha tido a coragem de virar as costas aquela luz, não! Como fora capaz?

Esticou o olhar até ao farol que, ao longe contemplavaos seus actos seguro e confiante face àquele mar tempestuoso e desejou ser corajoso como ele.

Sentido que não era merecedor de tal luz, enrolou a mensagem da Brisa do Luar que, cuidadosamente, introduziu novamente na garrafa. Colocou-se a rolha com força, assegurando-se que a água não poderia entrar. Então, levantando-se, correu em direcção ao mar e aproveitando o seu recuo momentâneo penetrou até onde o mar permitiu, para com um gesto intenso atirar a garrafa o mais longe possível.

Desejava perder de vista aquela luz cujo toque acabara de recusar de forma tão pouco digna. Ao deixar de a ver, perdida no meio das vagas pensou que, a partir daquele momento estavam os dois no mesmo barco, perdidos, sem rumo, à mercê das marés.

Coincidência?


11 de janeiro de 2005

Coincidências (I)

A manhã estava fria. A brisa gelada cortava os pensamentos quentes que, no fundo da sua alma, procuravam abrigo do bafo frio em que tornara a sua vida.

Na praia não se via ninguém. Apenas ele e aqueles milhões de milhões de grãos de areia que sustinham o avanço do outras milhões de milhões de gotas de água. Como dois exércitos que brincam incansavelmente medindo forças, sem dor, sem ódio, sem ressentimentos.

O sol, debilitado pelo seu distanciamento, espreguiçava os primeiros raios que corriam pelo areal ainda húmido. Junto ao mar, a luz esbarrava nos restos de refeições mal digeridas e povoava o areal de sombras. Havia de tudo, restos de madeira, plásticos, vidros, redes, cordas, de tudo um pouco. Como a uma criança a quem o pais enfiam a comida na boca à força, também o mar cuspia aquela “papa” que incessantemente lhe tentavam enfiar pela boca.

Seguiu areal fora saboreando aquela dualidade de frio e calor proporcionada pela brisa fria que o mar arrastava e o calor que aquele sol, ainda que envergonhado, transportava em cada raio de luz que tocava cada pedaço da grossa parca azul.

Com o olhar fixo no horizonte longínquo do areal procurava focar o seu pensamento nos sentimentos que saltitavam na sua alma. Pareciam brincar de “esconde, esconde”. Pareciam muito nítidos, mas sempre que acendia um pequena luz para os poder contemplar melhor, Puff…, como por magia desvaneciam-se em sombras, em reflexos desfocados de sonhos que desejava ardentemente ter vivido.

Cansado daquela corrida atrás de sonhos que se desvanecem como por magia, resolveu sentar-se, ali mesmo, no areal. De frente para o mar, questionava filosoficamente a razão acerca das razões para aquelas questões, cujas respostas, também elas, não passam de uma miragem.

Subitamente foi atingido por um brilho intenso. Ao longe, no areal, algo brilhava intensamente à luz do sol, agora mais desperta e viva. Inicialmente não ligou, mas depois, a força da procura das razões para as questões que mais intensamente nos assolam a mente levou-o a levantar-se e a caminhar em direcção à luz. A medida que se aproximava o brilho diminuía. Quando finalmente se aproximou, ficou a olhar para ela, ali, sobre o areal, ligeiramente enterrada, mas ainda assim suficientemente descoberta para deixar antever a sua delgada e elegante silhueta.

O mar no seu balançar contínuo, banhava-lhe as costas descobertas. Com o pescoço levantando parecia pedir para a retirarem de ali. Primeiro hesitou, mas depois decididamente baixou-se e amparando-a com firmeza, arranco-as dos braços do areal.

Já na sua mão observou como tentava proteger das agruras e das tempestades, algo que a sua fértil imaginação jamais poderia sonhar.

Depois de um momento de reflexão, agarrou a garrafa com força e puxou a rolha que salvaguardava do tempo uma mensagem. Retirou com cuidado o papel que se aconchegava no seu interior. Posou com cuidado a garrafa no areal, sentou-se e desenrolou delicadamente o papel. A mensagem era curta e simples, mas continha mais uma daquelas questões cuja resposta se afigura complexa e pouco consensual.

"Eu não acredito em coincidências.
E tu acreditas?
Se acreditas que esta mensagem ter ido ter às tuas mãos não foi uma coincidência, mas sim um raio de luz que nos uniu, telefona-me 96……"

Assinado

“Brisa do luar”



6 de janeiro de 2005

Novos Sonhos

Ano novo
Nova luz
Novas emoções
Novos desejos
Instantes fugazes de sonho
De luzes resplandecentes,
De luzes quentes
Luzes doces e meigas,
Luzes que entrem pela clarabóia deste farol
sem medo
Percorram com paixão
todos os cantos e recantos desta prisão
E finalmente consigam apagar
com o brilho do seu amor
Esta escuridão que invade este corpo
que me prende a alma
E não a deixa voar
Livremente
E sonhar
Sonhar que tu estás aqui...Comigo.


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