21 de fevereiro de 2006

Despertar de Sonho

Despertava lenta e tranquilamente de um bonito sonho. Ainda com os olhos fechados esticou vagarosamente o baço e foi percorrendo lentamente a cama procurando sinais do calor do sonho dessa noite. Ao mesmo tempo que tacteava detalhadamente o leito, o seu pensamento ia desenhando, de memória, na sua imaginação a figura de um corpo de homem que agora sentia conhecer integralmente.

Vagarosamente perscrutava os lençóis e sentia-se invadir pelo frio que transpirava do vazio que lhe entorpecia a esperança da felicidade plena e subtilmente ia apagando os, cada vez mais débeis, sinais de um arrebatador sonho a dois.

Por fim o frio acabou por desentorpecer o seu despertar. Abrindo definitivamente os olhos observou como a seu lado repousava sossegado o vazio, um vazio repleto de frio.

Enquanto retomava controle das suas capacidades físicas, meditou sobre a sua vida sentimental. Analisou como esta se transformara num caos, um caos controlado, mas, ainda assim, um caos. Na realidade a sua existência sentimental nunca fora muito fácil. Um coração caprichoso desde há muito teimava em lhe pregar partidas, levando-a por caminhos tortuosos e acidentados, como se ela fosse um todo-o-terreno.

Ponderou como seria bem mais fácil a vida se cada um pudesse escolher por quem se apaixonar, quem amar ou mais simplesmente gostar ou não gostar. Mas a vida, também ela extravagante, não era assim. Pensado detalhadamente mais lhe parecia que no seu caso o destino tinha uma aparência bastante mais traquina e teimosa.

Um destino por vezes era até cruel. Para que ela soubesse exactamente qual o caminho da felicidade, colocou-lho bem à sua frente, mas injusta e propositadamente colocou-lhe um sinal de sentido proibido, sugerindo-lhe que, “agora que sabes o destino, vai e procura um caminho…”.

Mas procurar porquê?

Afinal aquilo que procurava estava mesmo ali, à sua frente. Ele parecia que a conhecia demasiado bem, sentia que tinha o seu manual de instruções. Instintivamente sabia que botão tocar em cada situação. Praguejou violentamente em pensamento. Se aquilo que desejava estava, mesmo ali, à sua frente, porque teria ir procurar noutro lado. Estava, mas não estava, e esse era o problema. Eram só contradições.

Afinal o sonho não passava disso mesmo, um sonho.

Nesse momento, sentiu como duas gotas de mar salgadas se preparavam para tomar de assalto o seu rosto, separando-se do oceano doce e calmo do seu olhar. Pareciam querer abrir caminho a um maremoto capaz de deixa à vista, na costa, sentimentos que há muito tinha sepultado no fundo do oceano da sua vida.

Procurou respirar fundo, conter aquela água que sinalizava a fúria de sentimentos oprimidos. Já mais calma daquele momento de fragilidade emocional, rodou suavemente e sentou-se na orla na cama. Pousou os pés no chão frio, que, contudo, lhe pareceu incomparavelmente e incompreensivelmente mais quente, que o frio que se desprendia do vazio da sua cama, momentos antes.

Puxou o roupão branco que repousava, estendido, sobre a cama e como ele abrigou a nudez natural que sensualmente vestia nessa manhã. Ergue-se e caminhou em direcção à luz indiscreta que persistia em atravessar o cortinado erguido em frente à porta da varanda.

Afastou ligeiramente o cortinado e observou como, lá fora, o dia recomeçava, indiferente aos seus sonhos e problemas, tristeza e sofrimento. Ainda bem que era assim, pensou. Bastava que esses pensamentos condicionassem a sua vida.

Por momentos deixou o seu olhar escapar com o pensamento através do vidro até os perder de vista no horizonte, num romântico passeio a dois, tão longe que as suas angústias não os conseguiam alcançar.

Estava bastante longe quando sentiu dois braços que lhe rodeavam a cintura, apertando-a ligeiramente e acariciando-lhe o ventre, ao mesmo tempo que um corpo se moldava à forma das suas costas. Semicerrou os olhos, ao sentir o suave beijo no pescoço. Um sussurro quase imperceptível ao ouvido arrancou-lhe um terno sorriso.

Nesse instante um caloroso raio de sol, atravessou o cortinado indo atingir certeiramente o seu coração que transbordou de calor. Então, rodando sobre si, colocou os braços à volta do pescoço dele. E sem emitir qualquer som disse-lhe apenas com movimento de lábios bem marcados, aquilo que sentia.

Ao ver o brilho dos olhos dele teve a certeza de que, o seu sonho, afinal nunca o tinha sido…

… pois era realidade.



17 de fevereiro de 2006

Encontros de Paixão

Encontros e desencontros
Em que nos encontramos
Perdidos e achados
Mas nunca desencontrados.

Sozinhos ou acompanhados
Constantemente ligados
Eternamente atados.

No espírito e no sentimento
Unidos por um único pressentimento
Um desejo
Uma aspiração
Uma necessidade
Uma vontade
De Preencherem com determinação
O seu coração
Com a ternura ardente da paixão.



15 de fevereiro de 2006

Passadeira da Vida

Naquele dia apeteceu-lhe fazer algo.

Um gesto muito simples, mas ao mesmo tempo profundamente importante, no entanto, talvez, também, desmesuradamente injusto.

Aquele gesto em forma de garrafa gritando socorro, embalada pela ondulação suave de um mar de profundo afecto, poderia abrir feridas ainda não saradas no corpo da esperança, na vontade de preencher um vazio que a vida teimava em manter a sangrar.


Nesse momento, imensamente dividido entre a vontade de se sentir feliz e o receio de intensificar uma dor que não se deseja dar nem receber, sentiu que a vida poderia muito bem ser descrita como uma passadeira que se estende sobre o mar do amor sem nunca o tocar.

Uma imensurável e interminável passadeira, para a qual não parece haver fim…



14 de fevereiro de 2006

Again and again, and...

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Não há palavras, apenas sensações...


13 de fevereiro de 2006

A Tristeza de Viver a Perder...

MERDA!

É que dá quando não dizemos aquilo que queríamos e deveríamos dizer. Quando queremos racionalizar o irracional, mostrar aquilo que na realidade não somos, mas até nos dá algum conforto pensar que o podemos efectivamente ser. Depois é ficar com o olhar vazio fitando o branco da parede à espera que de ali saia algo, mais que o frio que o branco encerra.

Sim estou triste, já o sabes, podes senti-lo!

Também sabes o porquê.

Mas é o que dá quando deixamos as palavras ao sabor do vento, nunca sabemos que rumo podem tomar. E hoje tomaram, tomaram um rumo não desejado, o pior rumo de todos.

Agora sim, posso dizer-te que era disto que eu tinha medo, relativamente ao resto estava apreensivo, alerta – como tu dizes – mas medo, medo, verdadeiro pavor só mesmo disto daquele momento ali atrás em que me mandaste desligar da tua vida.

Aquele último click, o suspiro abafador e o silêncio. O vazio impiedoso que se instala novamente para tomar conta de tudo.

Diz a sabedoria popular que é assim a vida, uns dias ganha-se... e outros perde-se!

Hoje sinto que perdi tudo…

Beijinho CrOMAlINda

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8 de fevereiro de 2006

A Espera da Felicidade

Acordara pensativo, meditativo, melancólico, sentenciariam alguns. Queria fervorosamente encontrar uma razão para aquele estado de apatia compulsivamente frenética. Era algo difícil de explicar, o que sentia naquele momento. Entre a aparente apatia que transparecia no seu exterior calmo e ausente, e a agitação e desordem que reinava no seu interior, sobressaia a busca vã por uma explicação que não iria encontrar, simplesmente porque ela nunca esteve escondida.

Bem pelo contrário, a explicação permanecia colada na retina dos seus olhos, na ponta dos seus dedos, na superfície dos seus lábios, no topo das suas células olfactivas. Tudo, mesmo nada, lhe lembrava a sua figura, o seu rosto, o seu cabelo, a delicadeza dos seus gestos quando, delicadamente, e com meiguice o afagara em seu regaço.

De um pulo sentou-se na extremidade da cama, havia que combater aquela aparente apatia. Energicamente trauteio uma canção e tratou de retocar o seu indefinível aspecto exterior. Tomou o pequeno-almoço, vestiu uma camisola de lã e preparou-se para o seu passeio matinal.

A manhã estava fria; comprovou ao abrir a porta. Puxou o fecho do impermeável e preparou-se para absorver, com o mesmo fervor que impelia a sua melancolia exterior, o ar húmido carregado de maresia da manhã. Deitou a mão ao telemóvel à procura de um doce, ainda que light, muito light, mas nada. Ela partira, esquecera-o. Ele já o tinha previsto, até já lho tinha dito, embora ela sempre menospreza-se o seu aviso.

Recolocou o telemóvel no bolso enquanto a sua mente filosofava sobre a angústia da ausência, a ausência na presença, a falta do que lhe fazia falta mesmo sem saber que lhe fazia falta, sem perceber quando começou a sentir falta.

“PORRA!”, gritou muda a sua mente. Que pensamentos aqueles!

Concentrou-se na sua caminhada e no mar que o envolvia com uma serenidade ímpar e inacreditável, para uma manhã de pleno Inverno. Mas era necessário assegurar o equilibro do universo, e aquele mar assim, calmo, certamente representava o contraponto do seu espírito, da agitação do mar de sentimentos, da ansiedade reprimida no seu interior.

Mas que poderia fazer, essa era a verdadeira questão. Lembrava como em pequeno alguém lhe ensinara algo sobre os pássaros livres. A sua liberdade era o seu maior bem, ainda que nem sempre tivessem consciência disso e só havia duas formas de os prender.

A primeira seria cortar-lhe as asas. Algo muito doloroso e cruel, demasiado atroz e que só um desalmado alguma vez tentaria. A outra era que… bem essa… embora aparentemente não tão má, não deixava de ser dolorosa, principalmente em momentos de coagida ausência.

Aquela sabedoria que há muitos anos lhe tinha sido ofertada pelas mãos do tempo, esse idoso e sábio conhecedor de aves, mostrara-lhe que não havia forma doce, delicada e ausente de amargura de prender um passarinho. Havia que o deixar voar, voar livre de fronteiras pois era assim o seu céu, de um azul imenso e sem outras barreiras que não o cansaço que lhe provoca o próprio voo.

Contudo, deixar-lhe-ia um pouso, uma casinha pendurada na árvore do jardim, onde todos os dias colocaria comida e água, na esperança que, algum dia, a delicada ave decidisse descansar ali. Até esse dia teria de, continuamente, lutar contra o martírio da espera, um suplício ao qual o seu endurecido espírito procurava incessantemente permanecer insensível, concentrando toda a sua força na esperança desse dia, em que poderia finalmente dizer que…

...era feliz.



7 de fevereiro de 2006

Problema de Expressão

Passamos dias, meses, às vezes anos a ouvir músicas sem verdadeiramente sentir o alcance dos sentimentos que se misturam entre as notas, as linhas e as letras na pauta.

Mas, um dia, igual a tantos outros, mergulhamos na pauta e entre as suas linhas vamos nadando, avançando por entre as letras e os sentimentos que elas encerram, e nesse dia, num instante mágico, descobrimos que o nosso problema não é único, e que outros sofrem com a mesma dor.


Problema de Expressão
(Clã)

Só pra dizer que te Amo,
Nem sempre encontro o melhor termo,
Nem sempre escolho o melhor modo.

Devia ser como no cinema,
A língua inglesa fica sempre bem
E nunca atraiçoa ninguém.

O teu mundo está tão perto do meu
E o que digo está tão longe,
Como o mar está do céu.

Só pra dizer que te Amo
Não sei porquê este embaraço
Que mais parece que só te estimo.

E até nos momentos em que digo que não quero
E o que sinto por ti são coisas confusas
E até parece que estou a mentir,
As palavras custam a sair,
Não digo o que estou a sentir,
Digo o contrário do que estou a sentir.

O teu mundo está tão perto do meu
E o que digo está tão longe,
Como o mar está do céu.

E é tão difícil dizer amor,
É bem melhor dizê-lo a cantar.
Por isso esta noite, fiz esta canção,
Para resolver o meu problema de expressão,
Pra ficar mais perto, bem mais de perto.
Ficar mais perto, bem mais de perto.


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