O Salvamento
Ao longe, escondida atrás de umas algas, cujos cabelos esvoaçavam ao sabor das correntes marítimas, ela observava os intentos frustrados do seu faroleiro para a salvar. Mas ao vê-lo deixar-se ir sem resistir em direcção ao fundo do seu mar, não se conteve e saiu, nadando com todas as forças que tinha para o amparar. Agarrou-o pelas costas, colocando os seus braços por baixo dos dele abraçando-lhe o peito. Tentou puxa-lo para a superfície, mas ele era pesado. Compreendendo a sua impotência, lançou um apelo que ecoou por todos os oceanos. Prontamente apareceram vários amigos que a ajudaram a transportar o seu querido faroleiro até à terra.
Deitou-o na areia e certificou-se que ainda respirava. Permaneceu a seu lado acariciando-lhe o rosto e cantando um doce melodia. Pressentiu que ao longe se aproximava gente. Decidiu cantar mais alto. Eram pescadores, que espantandos com a escuridão do farol, tinham decidido ir investigar. Mal ouviram o canto da sereia, ficaram encantados e como se uma força superior os comandasse seguiram em fila em direcção aquela voz.
Quando sentiu a sua proximidade, ela mergulhos nas protectoras águas dos mar e ali ficou, protegida pela escuridão da noite a observar as últimas etapas do salvamento do seu querido faroleiro.
Quando chegaram, os pescadores ficaram surpresos por encontrarem ali o faroleiro, mas habituados a reagir rapidamente em situações extremas, logo acudiram, colocando-o na posição se segurança e administrando-lhe os socorros necessários. Alguns momentos depois o faroleiro recobra a consciência, ainda com aquela doce melodia nos ouvidos, e pergunta:
- Onde está ela, a minha sereia? Onde está?
Os pescadores olharam atónitos uns para os outros e sem compreenderem o que se passava pensaram um uníssono que aquela solidão no farol o tinha transtornado, coitado! Percebendo o espanto pintado no rosto dos seus salvadores, tentou contar-lhes a história da tentativa de salvamento, dizendo-lhes que lhe chamou sereia pela forma única como cantava.
Reparou por fim que o farol continuava apagado. Levantou-se frouxo de forças, mas seguiu apoiado pelos pescadores para o farol, onde rapidamente colocou todos os sistemas funcionais e a luz do farol, voltava a cruzar os horizontes daquele mar.
Despediu-se dos seus amigos, trocou de roupa e saiu em direcção às rochas que serviam de protecção ao farol. Na última, sentou-se, com os pés quase a tocar a água de um mar invulgarmente calmo naquela noite e suspirou.
Lembrava-se de ter mergulhado naquelas águas atrás dela, mas não compreendia como tinha saído. Enquanto esta pergunta ecoava na sua cabeça, eis que ela emerge das águas, com os seus cabelos ondulados e olhos transparentes iluminados pela luz do farol e lhe diz:
- Fui quem te salvou faroleiro. Salvei-te porque és o meu faroleiro e é para ti que eu vivo e canto neste mar que nos separa.
Ele emocionado olhou para ela e pediu-lhe que cantasse.
Eram verdadeiramente a luz, um do outro.
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