11 de setembro de 2004

A Casa da Lagoa (Parte I)

Tinha descoberto o local perfeito para um romântico encontro de amor. Podiam passar ali umas relaxantes mini-férias longe do barulho e da distância que insistia em os manter afastados. A casa, muito pequena junto ao lago e a protecção da espessa vegetação circundante conferia-lhe a privacidade ideal para amar, enfim era perfeita.

Situada junto á lagoa para onde dispunha de um acesso directo, convidava com incrível intensidade a sonhar, um sonho de alguns dias de felicidade plena. Apenas os dois, livres de todo o stress, da sociedade, dos relógios. Tudo ali convidava à evasão, à libertação do pensamento e dos sentidos.

O verde dominava a paisagem, um verde esperança cujo aroma a flores parecia nunca abandonar o olfacto.

O primeiro desafio era conseguir arrendar a casa do sonho. Depois de uma maratona de pesquisas para descobrir um contacto do proprietário, o dono, um senhor com alguma idade que não vivia lá, não se mostrava disponível a ceder aquele pedaço de paraíso entre o céu, a terra e o lago, a um estranho, apesar de ele não gozar aquela maravilha há muitos anos.
Disse com uma segurança que nunca lhe notara em outras palavras, que apesar de pagar religiosamente a manutenção e limpeza da casa a uma família local, na verdade já não usava a casa há oito anos.

Olhando directamente os seus olhos, pareceu ler a dúvida que lhe enbaciava o pensamento relativamente à segurança da sua afirmação e explicou.

- Ainda me lembro como se fosse hoje, daquele verão, o último, que eu e a minha falecida Maria passamos lá. Tínhamos combinado voltar lá no Inverno, com o nevoeiro o lago ganhava um encanto especial, mas não chegamos a voltar. Depois de voltarmos nesse Verão adoeceu e deixou-me... pelo menos até ao nosso reencontro, um dia.

Por isso prefiro dizer que renasceu, nasceu para uma nova vida algures e renasceu em mim sobre a forma de uma doce recordação, que desde esse dia me acompanha a todo o momento e onde quer que vá. Por isso sei que foi precisamente há oitos anos, meu jovem!

Com aquela história e sem se aperceber tinha colocado na sua manga as cartas necessárias para ele fazer batota e ganhar aquela partida. O Sr. António, era esse o seu nome ou simplesmente Tó para os amigos, tinha até esse momento recusado arrendar-lhe a casa. Mas agora com aquelas cartas na manga, bastaram-lhe menos de cinco minutos para conseguir que o Sr. António insistisse em lhe emprestar a casa.

Sim, nunca a arrendaria, mas depois de ouvir a história que ele lhe contou, era o Sr. António que o obrigava a aceitar o empréstimo, sem mais, da casa.

Sentiu que tinha ultrapassado o primeiro desafio com sucesso, no entanto outros, possivelmente mais difíceis, se aproximavam.

Respirou fundo, enquanto se preparava para encarar o desafio seguinte.



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