3 de setembro de 2004

O Telefonema - Uma Continuação (Parte I)

Da minha amiga Catarina a Grande Sonhadora recebi este cristal, uma pedra preciosa multicolorida, que em conjunto com a Luz do Farol inunda de novas e suaves tonalidades a história do telefonema, que parece ainda não querer chegar ao fim, mas também não é verdadeiramente uma surpresa, afinal já não falavam há..., há... tanto tempo e havia tanto, tanto, tanto para partilhar.

No primeiro minuto que teve de profundo silêncio e de pura descontração pegou no telefone para lhe telefonar, mas aquele compasso de espera, aquele sinal que nunca mais dava lugar à sua voz, rouca e forte, fê-la pensar na possibilidade de Ele se ter arrependido, e por isso deixou-lhe uma mensagem aparentemente segura e sem hesitações, afinal o facto de não estarem juntos há..., há... tanto tempo não significava, de todo, que todos os momentos passados a dois se tivessem desvanecido e perdido no ar.

Imaginava-o mais velho e mais maduro embora ainda com aquele eterno sorriso tímido de criança, e ela também tinha crescido, desde esses longínquos momentos que não ouvia o som das suas gargalhadas e o tilintar dos seus sorrisos no seu ouvido. Era carinhoso mas incrivelmente inseguro, e quando ela lhe pediu aquele passo, quando estava quase quase preparada para lhe prometer a felicidade eterna, ele fugiu, fugiu e encerrou-se naquele farol. Aquele farol que um dia conhecera, aquele lugar iluminado onde um dia Ele lhe dissera:

- "Dá a volta a este farol e marca o limite do meu espaço com as tuas pegadas, para que quando eu não queira sair as veja sempre, e para que quando eu entre, entre com um pouco da areia que me deixaste pisada por ti.".

E naquela noite, naquela noite mais bonita que todas as outras ela pisara a areia circundante do seu farol, não sabendo que lhe estaria a delimitar o tamanho do Mundo.

Mas afinal já tinha sido há..., há... tanto tempo e Ele talvez já nem se lembrasse disso, nem da areia, talvez nem tivesse sequer já o farol por quem Ela um dia, se tivera apaixonado. Perdidamente.

Sentada no parapeito da janela não deu pelo tempo passar. Não reparou nas colegas que entretanto já tinham saído, nem na quantidade de telefonemas que havia recebido, tudo porque estava centrada naquele maldito telemóvel sofisticado, que só se pedia que tocasse.

E ele tocou. Do outro lado da linha...


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