27 de agosto de 2004

Hoje Podia...

Hoje podia contar-vos uma história. Na verdade podia, mas não me apetece.

Queria ficar aqui sentado no jardim do farol a olhar o mar, este mar sereno que sempre me acalma. Quando o olho e sinto o seu movimento constante pergunto-me se nunca se cansa. Não deve cansar, talvez seja essa sua constante actividade que me faz acalmar, sentir que por mais que tentasse nunca o conseguiria acompanhar.

Pois, mas hoje não me apetece contar-vos uma história sobre o mar.

Queria mesmo era ficar aqui sentado enquanto no pequeno ecrã à minha frente uma força invisível, através de uma mão imaginária desenhasse com letrinhas uma bonita história. Uma história de sonho. Um sonho a dois, três, quatro ou mais, muitos mais, porque os Amigos nunca são demais.

Pois, mas hoje também não me apetece contar-vos uma história sobre o Amizade.

Tantas foram já escritas e tão mais perfeitas do que qualquer uma que eu vos pudesse contar. Talvez aquela, daquele meu Amigo que um dia... não, nem essa seria merecedora da vossa paciência e atenção, é uma história demasiado simples, demasiado humilde sobre um facto ordinariamente vulgar, para uma noite de verão.

Pois, mas também não me apetece contar-vos uma história sobre uma noite de verão.

Como gosto das noites de verão. Gosto particularmente de sair à rua, caminhar por locais descampados e agarrar com força a luz do luar com o olhar, enquanto me banho na frescura que pinga de cada ponto brilhante do céu, assim como de um chuveiro astral. Como é bela a noite. Apurando o ouvido conseguem ouvir-se aqueles sons tremendos que durante o dia se encontram calados pela ampliação do nosso frenesim social. Como gosto das noites de verão no campo.

Pois, mas também não me apetece contar-vos uma história sobre o campo.

Verde, amarelo, vermelho, lilás, branco, ou até mesmo negro, não de um negro calmo e sereno como o da noite, mas de um negro sujo, queimado, destruidor, um negro criminoso e assassino. Ai o campo, os odores que se misturam no ar, o calor que desprende da terra, colocar a mão no chão de granito rude à noite e sentir o calor invadir-nos e depois, depois quem sabe mergulhar nas águas bem frescas de um tanque de rega alimentado por uma fresca mina, de onde saem, aos pares, grupos de morcegos que mergulham sem medo na noite escura.

Pois, mas também não me apetece contar-vos uma história sobre sensuais banhos nocturnos em noites de verão, em águas frescas que aquecem com o calor da paixão dos corpos que nelas se banham.

Na verdade, hoje não me apetece contar-vos nenhuma história, espero que compreendam e me desculpem.


0 Comentários:

Enviar um comentário

<< Home

]]>