30 de agosto de 2004

A Promessa a Lady Marian Robina

"...tu és o meu pior pesadelo..."

Escreveu ele com a sua melhor caligrafia preenchendo de sentimentos a brancura da folha de papel que tudo permitia e tão pouco exigia. Aquela seria uma carta que nunca enviaria, pois simplesmente ainda não tinha uma destinatária para ela. Talvez, nunca fosse demasiado tempo, mas seguramente aquela carta não sofria do stress de um deadline.

Aquele simples facto dava-lhe espaço para parar, reler e pensar no que tinha acabado de escrever. Lido assim, sem mais, podia até parecer absurdo, como poderia alguém escrever uma declaração de amor naqueles termos, dizendo à pessoa amada que era o seu pior pesadelo.

Interiormente riu, irradiando daquela gargalhada muda um sentimento de desprezo por aquela interpretação.

Mas aquela era uma sincera e pura declaração de amor, pois ela era mesmo o seu pior pesadelo, um pesadelo que o fazia sentir tudo aquilo que esquecera, que o impelia a fazer e dizer as maiores tontices com um grande sorriso nos lábios e uma sensação de alegria imensa. Na verdade, desde que passara a ter aquele pesadelo na sua existência, tinha recomeçado a viver, a viver para si e por si, para ser feliz.

Aquele pesadelo tinha-o feito enfrentar uma série de medos, abrir portas de novos mundos e recomeçar, reiniciar cada dia com um espectro de vitória nos olhos. Era um pesadelo azul celeste e cor-de-rosa, doce como só o algodão doce, violento como o mar pode ser, calmo como o céu azul, cor de laranja, amarelo raiado por uns leves traços de cinzento, vermelho e amarelo num final de tarde de verão e ternurento, de uma ternura infinita.

Como pode ser belo um amor platónico, um amor puro e simples, inofensivo, harmonioso, perfeito e implicitamente correspondido na sua plenitude.

Esta era a força de um amor platónico, a energia que o impelia a viver e a apreciar cada segundo como se fosse esse o momento da descoberta do seu tesouro, um tesouro que aos olhos de qualquer outro não seria mais do que pirite, vulgar "ouro dos tolos", mas neste descomunal mar de sensações cada sentimento é como uma alga cujo sabor único e ímpar depende da boca do peixe que dela se alimenta.

Será que ela, onde quer que estivesse, se importaria de ser o seu pior pesadelo um pesadelo tão sonhado e desejado?


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