23 de setembro de 2004

O Principio Escondido

Entre o sonho e a realidade, hoje escolhi esta última para uma singela reflexão sobre sonhos, amor e felicidade.

É verdade que muitos peixinhos deste oceano de pó sonham com o amor e a felicidade, mas com frequência desesperam e sentem que por força de correntes caprichosas nunca atingirão a meta de um amor perfeito, ou da felicidade plena.

Foi então, que do alto da torre do farol, olhando a luz que sem medo se aventura em direcção a um mundo desconhecido, escuro e frio, me questionei: o que haveria de errado neste vasto mar empoeirado de sentimentos?

Olhei fixamente o amor procurando mergulhar profundamente na sua essência.

Que será o amor?

Será ele simplesmente um sonho, a miragem de um oásis, criada para nos ajudar a travessia do deserto na vida, na qual a fresca e revigorante água se transformou em quente e árida areia, ou uma espécie de cenoura na ponta de um pau?

E qual o papel da felicidade?

Talvez essa fosse a sombra da palmeira, ou a água do poço do oásis, aquela que sacia a seda, que refresca, alivia o calor infernal de viver cada dia com se atravessássemos um desfiladeiro descomunal, com os pés assente sobre um fino cabo, um corda bamba.

Os meus pensamentos acompanhavam o vai e vem, o subir e o descer das ondas de um mar agitado, que à minha frente, espumando, desafia os incautos marinheiros que se atrevem a procurar no seu seio a reposta mistérios que ele nunca revelará inteiramente.

Foi nesse momento que me pareceu ver uma luz que piscava à minha frente e do seu interior brotou numa brisa fresca e húmida a visão dos peixinhos que correm esbaforidos de um lado para o outro procurando o amor e a felicidade como se eles fossem a meta, o objectivo, uma finalidade, um limite, um fim, em resumo um ponto de chegada, não se apercebendo que na verdade estes são incontestavelmente um Ponto de Partida.

Tal qual aquela pequena porção de areia que antecede à boca do mar, eles são o átrio de uma grande caminhada e de onde não é possível deslumbrar um final.

Eles são a realidade que marca o nascimento do sonho, um sonho que é necessário alimentar de sono, de momentos de carinho, de paixão, de romance, tudo concebido e consumado com muito amor, apaladado com sentimentos intensos e leais.

Virando o meu olhar para terra, parei o movimento circular da luz do farol, apontei do seu foco em direcção aos peixinhos do pó. Lá dentro coloquei uma mensagem subliminar que dizia:

"Quando pensarem que atingiram a vossa meta de sentimentos, não olhem para trás, para ver onde estão os outros sonhadores, projectem antes o vosso olhar para o horizonte infinito que se estende à vossa frente e não se assustem se não vislumbrarem um fim, pois esse é o melhor sinal que a luz da felicidade plena permanece acesa em vós, alimentada por um amor de sonho perfeito."




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