21 de setembro de 2004

Os Limites

Flutuo suspenso pelas longas cordas do meu pensamento, memórias fortes ou simples vislumbres de lugares onde nunca estive, nomes que não lembro, caras que nunca vi, cheiros nunca cheirados, tudo incrivelmente familiar.

Vogo num mar infinito de sensações, num espaço sem tempo, num tempo livre das amarras de um qualquer espaço que limita a visão. Este é um universo meu, só meu, onde as asas da minha imaginação são livres de transportar a minha essência, ultrapassando limites nunca sonhados.

Levanto a minha mão imaginária e percorro um corpo de mulher, a pele macia, naturalmente hidratada e apetitosamente deliciosa. O meu paladar guloso clama pelo deleite daquela pele na ponta da língua. Na boca, milhares de papilas gustativas atropelam-se pelo desejo de saborear o êxtase do arrepio que acompanha o suave ardor da viagem da sua mãe ao percorrer cada centímetro daquela concha protectora de uma alma escaldante de prazer.

Aperto-a com vigor, o braço sob as costas e a mão sob os cabelos na base da nuca ampara o pendor da sua entrega, uma rendição fervorosa e consentida, uma partida por caminhos tantas vezes percorridos, mas sempre novos e misteriosamente desconhecidos.

Desfaleço ligeiramente numa fraqueza inconsciente. Recobro o sentido com um grito mudo emanado em uníssono pelos corpos unidos no prazer de um instante de glória sublime, uma fracção de tempo incompreensivelmente curta, mas infinitamente bela.

Abraço com força aquela alma em forma de mulher que agora se afasta para longe, muito longe, fora dos limites da minha realidade.Flutuo, flutuo, permaneço a flutuar dentro dos limites do meu universo com a esperança que alguma embarcação com nome de sereia me estenda uma mão real, me tome nos seus braços, liberte destes limites…

… e guie para outro universo repleto de estrelas.


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