16 de novembro de 2004

Histórias de Luz (O Faroleiro e a Lua)

Hoje, decidi escrever sobre este Farol. Vem tudo a propósito de uma conversa que mantive com um marinheiro de água doce, acerca da importância e relevância das luzinhas que se acendem no horizonte, mesmo não sabendo se alguém as vê.

Para começar, digo-vos que,

hoje vi a lua!

Tenho de confessar que apesar de ser faroleiro, tenho sempre muitas dúvidas em distinguir os humores da amiga lua. Todavia creio que desta feita, os seus maus humores estão a crescer. Claro que sei quando os seus humores atingiram o pico, aí teremos as marés vivas, isto é, quando ela está cheia de maus humores ou quando muda de humor.

Também vi as estrelas. Essas sim, as minhas luzinhas preferidas. Quando olho o céu em noite escura lembro sempre o fascínio da infância adulta por aqueles tectos que imitam o céu, com luzinhas a piscar. Lembram-me um universo em miniatura, finito e palpável, mais ao nosso alcance.

Bem, mas não era sobre isto que vos queria falar, não obstante ser muito importante que, hoje, logo hoje tenha visto a lua e as estrelas.

Quantos já olharam para o céu hoje?

Sim, é possível que muitos tenham olhado, mas quantos pararam para contemplar o céu?

Pois é, temos tanta coisa para fazer, tanto em que pensar, tanto em que, tanto para, tanto ainda, tanto… Tudo é tanto e tão importante, que acabamos por ter de fazer escolhas. Claro que uma escolha exige sempre uma eliminação, para os mais competitivos: um vencedor (o escolhido) e um vencido (o rejeitado).

Aqui entram os critérios. Para fazer a escolha é imprescindível ter um critério. Um juízo que seja o “acertado” ou justo, pelo menos, dadas as condições.

Mas afinal, que tem isto a ver com o farol e com a conversa?

Vem tudo a propósito, de que alguém me explicava porque motivo não lê o farol. Não é que não goste, para dizer a verdade até acha os textos “engraçados”, mas o problema é que são sempre, ou quase sempre tão longos e como tem pouco tempo, tem de fazer escolhas e então prefere outros “faróis” que têm textos mais curtos e mais “leves”.

Ora aqui estão dois bons critérios: tamanho e leveza.

Perguntam agora alguns de vocês, os meus leitores preferidos, aqueles que mais estimo, aqueles a quem chamo amigos:

O que tem isto a ver com a lua e as estrelas?

Tem tudo. A lua é só uma, mas está acompanhada por inúmeras estrelas, num longo, muito longo texto de luzinhas que parecem piscar mensagens em código Morse, aqui e além. Por mais que as tentemos contar achamos sempre que são demasiadas, mas ao mesmo tempo, aquela luz difusa que nos entra pelos olhos é uma luz leve, suave, uma luz meiga que nos acaricia a alma e nos fazer sentir a calma e a serenidade que o dia nos rouba.

Imaginem agora que a lua ou as estrelas paravam de brilhar apenas porque alguns não as vêem, porque são chatas, porque são muitas, porque aparecem aos montes todas as noites e desaparecem com o espreguiçar do sol, pela manhã. Porque é sempre a mesma rotina, dia após dia, dia após dia, dia após dia.

Bem, no fundo apenas vos queria dizer que é assim, luzinha a luzinha que se faz um céu estrelado, com uma lua mãe e muitas estrelinhas, elas que são a inspiração de muitos marinheiros e a salvação de tantos outros que nos seus dedos encontram o caminho para casa, ainda que alguns, muitos, tantos, não as consigam ou não queiram ver.

Por fim queria dizer-vos que,

Hoje vi a lua. Não estava sozinha, com ela estavam milhões de estrelas que beijei, uma a uma.



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