12 de novembro de 2004

O Encontro (Parte IV)

Entretanto Pedro permaneceu imóvel na cadeira. Com o olhar perdido no Outono que envolvia a janela, pensava naquele encontro. Curioso sem dúvida. Alguém que nunca vira, um simples acenar de mão, um café, uma conversa, uma saída apressada e uma luzinha de esperança a pisacr para um novo encontro.

Aquela parecia sem dúvida uma histórias de um livro, talvez mesmo um conto das “Histórias de um Faroleiro”, que Isabel adquirida no Resende, talvez mais uma história de faroleiro. Soltou uma discreta gargalhada ao ver-se como personagem de uma das suas próprias histórias. Mas ainda não estava convencido de que aquele encontro tivesse realmente acontecido, afinal poderia apenas mais um dos seus sonhos, das suas fantasias.

Focou a sua atenção na mesa onde ainda permaneciam duas chávenas. Eram sem dúvida cúmplices e testemunhas de algo, senão que fariam ali juntas? Elas eram a prova provada de que o seu sonho, a história daquele encontro extravasara a sua mente e a folha de papel, tantas vezes confidente do seu pensamento e companheira de uma solitária chávena de café.

Um som compassado ao longe despertou a sua atenção. Levantou o olhar em direcção ao idoso, que continuava com passo acelerado a perseguir o tempo e lembrou que fora ele o responsável pela partida de Isabel. Apeteceu-lhe atirar-lhe um insulto, mas depressa recobrou daquele momento de insanidade e com um sinal ao empregado decidiu que era hora de partir.

Lá fora a chuva desfalecera. Misturada com alguns raios de sol, tinha agora um ar mais jovial e alegre. Puxou o capuz do impermeável para o proteger dos raios molhados do sol e seguiu coaxando ao longo da rua, com o pensamento ligado ao olhar de Isabel, um olhar transparente, através do qual pode sentir uma alma doce, amargada pelo azedume de uma vida tantas vezes injusta e imperfeita.

Sem se aperceber acelerava o passo a cada metro, queria chegar a casa rapidamente.

Num instante estava colocado à porta do prédio onde habitava. Era uma casa pequena, com apenas dois andares. A fachada tinha cheiro ao século passado. Encravada entre dois prédios, um pouco mais altos, parecia a filha pequena sob a protecção dos progenitores. Possuia olhos bem grandes que permitiam alimentar de luz o mais exigente dos faroleiros e ao mesmo tempo conseguia-se vislumbrar o mundo todo através deles.

Abriu a porta e correu em direcção à escada em caracol por onde se acedia ao cimo do seu farol. O sótão era um espaço que tinha preparado especialmente para sonhar. No tecto, duas grandes janelas abertas ao céu convidavam os pensamentos a voar em direcção às estrelas. Noutro extremo uma porta dava acesso ao um pequeno varandim assente sobre o telhado. Pelas paredes, toneladas de livros faziam fila ordeiramente em metros de estante.

Ao fundo, em frente a uma janela redonda que lembrava a escotilha de um navio, não fossem os raios que a decoravam e o seu tamanho descomunalmente superior; repousava uma secretária. Esta suportava sem fatiga o computador e pilhas, e pilhas e pilhas de folhas que brincavam anarquicamente com alguns livros.

Sentou-se e ligou o computador. Na sua cabeça, a vontade de contar aquela história sobrepunha-se a todos os outros pensamento de forma arrebatadora.

Queria imortalizar aquele encontro, queria descreve-lo com todos os pormenores antes que o tempo, esse que tudo reduz a pó, reduzisse também a pequenas partículas, invisíveis, o monumento aos sentimentos simples que se erguera naquele encontro.

Entretando, Isabel descolara o olhar da janela e devorava agora com sofreguidão as "História de um Faroleiro". Do olhar daquele Faroleiro desprendia-se algum misticismo e certamente guardava algumas lendas e episódios apaixonantes no seu intímo.

Entretanto, Isabel descolara o olhar da janela e devorava agora com sofreguidão as "Histórias de um Faroleiro". Parou por momentos de ler e pensou que, do olhar daquele Faroleiro se desprendia algum misticismo e certamente, ele guardava algumas lendas e episódios apaixonantes no seu íntimo. O que mais a surpreendia e impressionava era o dom de contador de histórias daquele Faroleiro. Sentia que ele compreendia a alma do leitor sonhador. Sabia suspender o conto e agarrar o leitor aos sonhos, aqueles que comandam a vida, não a real, mas a ideal.

Posou o livro sobre o banco com a contracapa virada para cima, de forma a poder vê-la com clareza. Procurou na carteira o telemóvel e decidiu fazer uma chamada.

Tomara uma decisão e tinha de a comunicar quanto antes.


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